Ex-gestor da Metro escolhido para liderar CCDRN com Paulo Morais como vice

Governo deixou cair Carlos Duarte, nome dado como certo há meses, e vai nomear Duarte Vieira. Mudança surpreende e não entusiasma os autarcas

O actual gestor do Programa Operacional do Norte, Carlos Duarte, já não vai ser presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN). Depois de ter sido apontado como sucessor de Carlos Lage - que se reformou na semana passada -, o ex-secretário de Estado da Agricultura, que até tinha reunido um largo consenso entre os 86 autarcas da região e sondara pessoas para as duas vice-presidências, viu-lhe ser "retirado o tapete". O sucessor de Lage vai ser, afinal, José Manuel Duarte Vieira, desconhecido da política regional e com um percurso marcado pelos oito anos em que foi administrador do Metro do Porto. Paulo Morais, ex-vereador do Urbanismo na Câmara do Porto, foi convidado para uma das vice-presidências.

O Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e Ordenamento do Território não confirma o nome do futuro presidente da CCDRN. Mas, pelo que o PÚBLICO conseguiu apurar, quer junto de outras fontes do Governo, da CCDRN e até de pessoas próximas de Duarte Vieira, o convite já foi feito e aceite.

Carlos Duarte pode sair

Carlos Duarte não prestou declarações ontem, mas, perante a desautorização de que foi alvo, já deu a entender a pessoas do seu círculo próximo que se prepara para pedir a demissão do organismo que gere o programa ON.2, para o qual tinha sido indicado pela Associação Nacional de Municípios. Contrariando uma indicação do Governo, Carlos Duarte terá recusado vir a ter numa das vice-presidências Paulo Morais.

O antigo vereador do Urbanismo da Câmara do Porto, que saiu em ruptura com Rui Rio, é malquisto entre muitos autarcas pelo discurso anticorrupção que vem desenvolvendo nos últimos anos, e que põe a tónica nas supostas relações entre o urbanismo, a construção civil e o financiamento dos partidos. Ao PÚBLICO, o professor universitário não quis, no entanto, fazer qualquer comentário sobre o convite para a CCDRN.

A saída de Carlos Duarte é vista como uma má notícia pelos autarcas, já que, nos últimos anos, este desenvolveu um trabalho amplamente elogiado nas áreas do ON.2 sob a sua alçada, e que tocavam em projectos de iniciativa municipal. Por isso, alguns autarcas do PS e do PSD tentam reverter o processo, confirmou o presidente de Câmara de Cabeceiras de Basto e da Federação de Braga do PS, Joaquim Barreto. Esperam que o social-democrata Carlos Duarte aceite, pelo menos, manter-se na gestão do ON.2 cuja presidência, por inerência, caberá ao novo líder da comissão.

A reviravolta no processo aconteceu nos últimos dias. Até aí, não só o nome de Carlos Duarte era dado como certo, como este já tinha feito até contactos para as vice-presidências. O ex-presidente da Câmara de Mirandela, José Silvano, era apontado para uma delas, embora já se colocasse a questão de a direcção do PSD não permitir que lideres partidários (da distrital de Bragança, no caso) ocupem cargos de nomeação. A outra ficaria para o CDS. Era apontado o nome de Abel Baptista, deputado, antigo braço direito de Daniel Campelo em Ponte de Lima e actual presidente da distrital de Viana do Castelo do partido.

Duarte Vieira surge como solução de última hora para um dossier que se arrasta há meses. A sua escolha representa uma mudança do perfil de pessoas escolhidas para o cargo. Depois de Valente de Oliveira, Braga da Cruz, Silva Peneda, Arlindo Cunha ou Carlos Lage, a comissão passa a ser dirigida por alguém cujo percurso está menos ligado à escola do Planeamento e à vida partidária e que é sobretudo elogiado pelas capacidades de gestão - teve um papel importante na construção da rede de metro do Porto. Mas é alguém de quem se desconhece qualquer intervenção pública sobre a região.

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