Homens “herdam” doenças cardíacas pelo cromossoma Y

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As doenças de foro psicológico estão na origem de 2,5% das mortes registadas em 2014 Paulo Pimenta

Um problema no cromossoma Y, que passa de pai para filho, parece estar na origem de algumas doenças cardíacas hereditárias, de acordo com as conclusões de um estudo que acaba de ser publicado na revista científica Lancet.

Um grupo de investigadores da Universidade de Leicester estudou o ADN de mais de 3000 homens e descobriu que numa determinada variação do cromossoma Y, que determina que o bebé seja do sexo masculino, aumenta o risco de doença arterial coronária em 50%. Um em cada cinco homens terá esta versão do cromossoma Y.

A doença arterial coronária é uma situação clínica em que existe um estreitamento do calibre das artérias coronárias, provocando uma redução do fluxo sanguíneo no músculo cardíaco. Ao todo, em Portugal, estima-se que as doenças cardiovasculares afectem meio milhão de pessoas. São a principal causa de morte, representando cerca de 40% do total.

O estudo

refere que a este risco acrescido juntam-se outros factores como o colesterol elevado ou a hipertensão e reforça que estas conclusões confirmam o que já se sabia: os homens desenvolvem doenças do foro cardiovascular mais cedo do que as mulheres – em média dez anos antes. Aos 40 anos, por exemplo, o risco para os homens é de um para dois e nas mulheres de um para três.

Porém, os investigadores salientam que a genética não justifica tudo e sublinham que alguns estilos de vida, como fumar ou ter a tensão arterial descontrolada, também contribuem para o desenvolvimento de patologias do foro cardiovascular.

Os 3233 homens que fizeram parte do estudo comandado por Maciej Tomaszewski já tinham integrado outros ensaios relacionados com o risco de doença cardíacas. Após terem sido submetidos a alguns testes genéticos foi possível perceber que 90% dos doentes tinha uma de duas versões do cromossoma Y conhecidas como haplogrupo I e haplogrupo R1b1b2. O cromossoma Y apresenta variações genéticas que se traduzem nos haplogrupos, que se identificam por letras do abecedário, podendo ainda dividir-se em vários ramos.

O grupo da Universidade de Leicester sublinha que falta agora fazer mais estudos para perceber os genes exactos no cromossoma Y que são responsáveis por este risco acrescido nos homens, mas acreditam que já sabem contornar o problema, manipulando o sistema imunitário dos seus portadores.

“Estamos muito entusiasmados com estas descobertas que colocam o cromossoma Y no mapa da genética de susceptibilidade de doença arterial coronária”, salientou à BBC Maciej Tomaszewski, do departamento de Ciências Cardiovasculares da mesma universidade. “Os médicos em geral associam o cromossoma Y com o sexo masculino e a fertilidade mas este trabalho mostra que também está relacionado com a doença cardíaca”, acrescentou.

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