Prejuízos deRoquette e Dias da Cunha somam 196 milhões

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O Sporting apresenta números negros nas últimas 11 épocas Alexandre Afonso

Passivo do Grupo Sporting alcançou a marca histórica dos 375 milhões de euros, mas Godinho Lopes mantém a confiança no seu projecto a três anos

Não foi com a edificação do Complexo Alvalade XXI e da Academia em Alcochete que os "leões" chegaram ao actual drama financeiro, com um passivo galopante de 375 milhões de euros e capitais próprios negativos de 183 milhões de euros, segundo revela a auditoria externa feita ao Grupo Sporting (GS) e que foi ontem publicamente apresentada em Alvalade. Uma gestão ruinosa do futebol, nos últimos 12 anos, contribuiu decisivamente para a gravosa situação do universo empresarial do clube. Só as presidências de José Roquette e Dias da Cunha somaram prejuízos na ordem dos 196 milhões de euros.

Depois de confirmar os "resultados negativos crónicos" do GS, os auditores independentes apontaram a SAD (Sociedade Anónima Desportiva) como primeira responsável pelo descalabro financeiro. As fracas receitas do futebol profissional têm sido insuficientes para cobrir os custos estruturais. Em 11 anos, as mais-valias resultantes da venda de passes de jogadores originaram 106 milhões de euros, contribuindo com margens de lucro anuais, quase sempre insuficientes para cobrir os custos de estrutura, que rondarão actualmente os 45 milhões de euros (43 milhões na temporada 2009-10).

Em menor medida contribuíram os projectos imobiliários leoninos que, segundo o actual estudo, representaram 4,9% dos 263 milhões de euros de empréstimos contraídos. Ou seja, a construção do Complexo Alvalade XXI (que inclui o novo estádio e o complexo desportivo e de lazer envolvente) e da Academia de Alcochete, após a venda de terrenos do clube, a alienação de parte do património não-desportivo do mesmo Alvalade XXI, e as contribuições dos subsídios a fundo perdido do Estado (34,5 milhões de euros), resultou num saldo de apenas 13 milhões de euros negativos.

Contudo, as obras acabaram por ser encarecidas em resultado dos empréstimos avultados que o clube teve de contrair para materializar o projecto. Financiamentos que implicaram o pagamento de juros durante vários anos, que terão ascendido a 49,5 milhões de euros. No total, os custos chegaram aos 62,5 milhões de euros, desde 1998, que, mesmo assim, representa uma percentagem a rondar um quarto do total dos empréstimos.

Entre 1999 e 2010, o défice crónico de tesouraria acumulado chegou aos 214 milhões de euros, a uma média anual de 20 milhões, gerando um endividamento bancário total de aproximadamente 276 milhões de euros. Uma situação que implicou custos adicionais em juros de financiamento que atingiram o valor global de 115 milhões de euros no período em estudo.

E para suportar os crescentes encargos com a banca (actualmente o Banco Espírito Santo é responsável por 70% do financiamento), houve que apresentar garantias por via de dações em pagamento de receitas de patrocínio, publicidade, televisivas. Está ainda prevista uma retenção de 20 por cento das receitas dos passes dos jogadores, presentes e futuras, para o pagamento dos empréstimos, até um total de 15 milhões de euros.

Um cenário que não faz desanimar o actual presidente, que insiste no seu plano para aumentar as receitas do GS para 70 milhões de euros nos próximos três anos. A maior urgência de Godinho Lopes é encontrar agora um parceiro, "nacional ou estrangeiro", para entrar na SAD do clube.

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