Pequim não pode nem quer “comprar a Europa”, garante Governo chinês

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Angela Merkel com Wen Jiabao Foto: Bobby Yip/AFP

A China não pode, nem quer “comprar a Europa”, embora esteja na disposição de a ajudar a ultrapassar a crise da dívida, afirmou hoje o primeiro-ministro, Wen Jiabao, num encontro onde esteve também a chanceler alemã, Angela Merkel.

“Algumas pessoas acham que [a disponibilidade para um auxílio] significa que a China vai comprar a Europa”, afirmou Wen no fórum económico organizado em Cantão, no Sul do país. Mas “a China não tem essa intenção, nem essa capacidade”.

Ontem, depois da sua chegada à China, para uma visita de três dias, Merkel esforçou-se por dar ao Governo garantias sobre a estabilidade do euro e a capacidade da União Europeia em ultrapassar a crise. De acordo com alguns especialistas, Pequim detém cerca de 420 mil milhões de euros em títulos da dívida europeia.

Também na quinta-feira, Wen apontara para a “urgência” de a UE resolver a crise da dívida e indicou que o seu país está a estudar formas de se “envolver mais profundamente” numa solução.

O primeiro-ministro referiu que Pequim está disponível para uma “participação acrescida” no Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e no Mecanismo Europeu de Estabilidade, fundo de auxílio aos países do euro que deverá substituir o FEEF em Julho. Mais tarde, acrescentaria que essa participação seria feita através do Fundo Monetário Internacional.

Segundo diplomatas alemães ouvidos pela Reuters, os comentários foram os mais explícitos até agora feitos pela China no que diz respeito a uma contribuição para o fundo. E foram o suficiente para que se assistisse a uma subida do euro face ao dólar.

Mas o facto de Wen se ter referido mais tarde ao FMI – que pretende criar um fundo adicional de 500 mil milhões de euros para o resgate dos países da zona euro – também pode mostrar que há alguma falta de entendimento dentro do Governo chinês.

“Não há um consenso interno sobre como resolver o problema europeu”, afirmou à agência Zhao Xijin, vice-director do Finance and Securities Institute da Universidade Renmin. “Ir através do FMI é jogar pelo seguro. Do ponto de vista da política externa, de outros pontos de vista, não é necessário mais discussão. A China já é membro do FMI e está preparada para assumir as responsabilidades da liderança”, adianta o analista.

Para a UE, o apoio directo da China aos seus fundos seria encarado como um voto de confiança vindo do exterior – e beneficiaria mais directamente os seus Estados-membros, já que uma participação no FMI não seria necessariamente aplicada na Europa.

Mas, para Pequim, usar o FMI está mais de acordo com as suas prioridades na política externa, aumentando o envolvimento chinês (e posição) numa organização internacional multilateral, comentou Zhang Haibin, director do International Organization Studies da Universidade de Pequim. “A China tem muitas divisas estrangeiras, mas pouca experiência em utilizá-las. As finanças são um campo muito técnico e a China não tem muita especialização”, adiantou.

Para além disso, a opinião pública chinesa não concorda com o resgate europeu, onde a média do PIB de 32100 dólares per capita é quatro vezes superior à da China. “Há alguma verdade nesta posição popular”, diz Zhao.

A quinta visita de Merkel à China em seis anos ocorre a duas semanas da Cimeira China-UE, que nos dias 14 e 15 reunirá na capital chinesa os presidentes da Comissão e do Conselho Europeus, Durão Barroso e Herman Van Rompuy. A contribuição de Pequim para os fundos de resgate europeus estará muito provavelmente em cima da mesa.

A chanceler quer ainda que o Governo chinês garanta um maior acesso das empresas alemãs ao seu mercado e um reforço da “parceria estratégica” entre as duas principais potências exportadoras do mundo.

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