Sheryl Sandberg, a mais desconhecida das mulheres mais poderosas do mundo

Sheryl Sandberg entrou para o Facebook em 2008
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Sheryl Sandberg entrou para o Facebook em 2008 Foto: Christian Hartmann/Reuters
Sheryl Sandberg é a número dois de Mark Zuckerberg
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Sheryl Sandberg é a número dois de Mark Zuckerberg Foto: Mario Anzuoni/Reuters

“As saídas de Mark Zuckerberg, Sheryl K. Sandberg ou de outros funcionários fundamentais poderiam causar danos ao nosso negócio.” Esta frase, plantada na secção sobre os factores de risco que constam da proposta de entrada em bolsa do Facebook, mostra bem a importância daquela que é provavelmente a mais desconhecida das mulheres mais poderosas do planeta: Sheryl Sandberg, uma norte-americana de 42 anos, nascida em Washington, que um dia resolveu trocar o maior motor de busca do mundo pela maior rede social do mundo.

“A Sheryl Sandberg trata das coisas que eu não quero tratar, como a estratégia publicitária, os despedimentos e as contratações, a gestão e as questões políticas. Todas essas coisas que eu teria de fazer se trabalhasse noutra empresa qualquer. E ela é ainda muito melhor do que isso.”

Quando um patrão decide juntar as palavras aos actos, o resultado é este: Sheryl Kara Sandberg, antiga vice-presidente da Google para as vendas online, foi a funcionária do Facebook que mais dinheiro recebeu em 2011 em vencimento e prémios – mais, muito mais do que o próprio Mark Zuckerberg.

É verdade que o jovem multimilionário detém 28,2% da empresa e que Sheryl Sandberg não chega a controlar 1%, pelo que o total dos rendimentos no final do ano não é comparável. Mas se nos limitarmos aos valores pagos pelo trabalho diário, é caso para dizer que Sandberg tem muitos mais amigos nas páginas dos vencimentos e prémios do que Zuckerberg.

Vamos por partes: segundo os documentos entregues ao regulador do mercado financeiro norte-americano, Sheryl Sandberg recebeu no ano passado 295.833 dólares em salários, 86.133 dólares em bónus e 30.491.613 dólares em dividendos de acções O total: quase 31 milhões de dólares, mais precisamente 30.873.579. Na mesma tabela, encontramos o nome de Mark Zuckerberg, com um total de 1.487.632 dólares, cerca de 20 vezes menos do que Sandberg.

É claro que os quase 18 mil milhões de dólares que Mark Zuckerberg valia no ano passado, segundo a lista da revista Forbes, até permitem que o jovem multimilionário se dê ao luxo de propor para si próprio um salário base de apenas um dólar a partir de Janeiro de 2013, mas não deixa de ser curioso notar que, na lista dos cinco executivos de topo mais bem pagos, Zuckerberg foi o que menos ganhou pelo seu trabalho efectivo na empresa.

A quinta mulher mais poderosa do mundo


As palavras elogiosas do fundador do Facebook em relação à sua COO (chief operating officer, ou directora de operações em português) estão nas páginas da revista norte-americana


New Yorker

, que em Junho de 2011 traçou um

extenso perfil

desta antiga aluna de Harvard que, ao contrário de Zuckerberg, não só acabou os estudos, como foi a melhor aluna do bacharelato em Economia em 1991 e concluiu com distinção um mestrado em Administração de Empresas, quatro anos mais tarde.

Vinte anos depois de ter entrado no mercado de trabalho como assistente no Banco Mundial em projectos relacionados com problemas como a lepra, a sida e a cegueira na Índia, Sheryl Sandberg figura hoje ao lado de nomes bem conhecidos e influentes da política e da vida empresarial de todo o mundo – para a revista Forbes, é mesmo a quinta mulher mais poderosa do mundo, apenas suplantada por Angela Merkel, Hillary Clinton, Dilma Rousseff e Indra Nooyi (directora executiva da Pepsi), e a mais jovem do top 10.

O ponto de viragem de que o Facebook precisava

Apesar de todo o seu passado no mundo empresarial e até na política – entre 1996 e 2001 foi chefe de gabinete do então secretário de Estado do Tesouro, Larry Summers, na Administração Clinton, para quem tratou do programa de perdão de dívidas a países do Terceiro Mundo durante a crise financeira asiática –, Sandberg só alcançou o estatuto de estrela depois de tomar a decisão mais importante da sua vida profissional, em Março de 2008: abandonar o cargo de vice-presidente das vendas online na Google e aceitar um convite aparentemente menos vantajoso, numa empresa que ainda não sabia bem como fazer dinheiro com toda a sua influência no dia-a-dia de milhões de pessoas.

Depois de alguns meses de namoro, Mark Zuckerberg conseguiu convencer Sheryl Sandberg de que o casamento seria perfeito: a visão dele e a paixão dela por um ambiente de trabalho “orientado pelo instinto e pelas relações humanas”. Esta frase, por exclusão de partes, foi entendida como uma queixa em relação à forma como a Google era gerida. “Ela poderia ter gerido a sua saída de uma forma mais transparente”, disse um executivo de topo da Google à revista “New Yorker”.

Com a entrada de Sandberg no Facebook, a estratégia da empresa passou da ideia romântica de Zuckerberg – oferecer o melhor serviço possível e o dinheiro começará a entrar, mais cedo ou mais tarde – para o pragmatismo do mundo real – o que é que o Facebook pode fazer para começar a fazer dinheiro já. Depois de várias reuniões e ideias atiradas para cima da mesa, como o recurso ao comércio electrónico ou a subscrições pagas, Sandberg tomou a decisão final: o caminho seria a publicidade. Discreta, porque os utilizadores do Facebook não gostam de ver os seus perfis invadidos, mas ainda assim publicidade.

Em 2010, apenas dois anos depois da chegada de Sheryl Sandberg, uma empresa que coçava a cabeça à procura de soluções para estancar a perda de dinheiro tornava-se numa empresa lucrativa. A frieza dos números pode congelar parte do coração de Zuckerberg, mas aumenta-lhe a conta bancária todos os dias: entre 2008 e 2011, o Facebook passou de 130 para 2500 funcionários e de 70 milhões para 845 milhões de utilizadores activos em todo o mundo em Dezembro do ano passado, de acordo com a informação publicada na timeline da empresa.

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