Director do Museu de Lamego garante que a sua saída é uma "perseguição pessoal"

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O director do Museu de Lamego vai contestar a decisão de João Brigola, director dos Museus (na foto) Miguel Manso

Os despachos de João Brigola, director do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), ontem publicados em Diário da República, datam de 18 de Janeiro - um renova a comissão de serviço do director do Museu Nacional de Etnologia, o outro torna oficial a não recondução do director do Museu de Lamego. Joaquim Pais de Brito fica porque tem "o perfil pretendido" para dirigir o Museu de Lisboa, refere o despacho, Agostinho Paiva Ribeiro sai por "necessidade de imprimir nova orientação à gestão dos serviços", de acordo com o artigo do Estatuto do Pessoal Dirigente (Lei n.º 2/2004, com as subsequentes alterações) citado no documento.

Pais de Brito prepara, "para breve", a inauguração da primeira exposição permanente do museu inaugurado nas actuais instalações em 1975, Paiva Ribeiro prepara um recurso a apresentar à Secretaria de Estado da Cultura para contestar a decisão de Brigola, de que tomou conhecimento no dia 18.

"O director do IMC telefonou-me para dizer que não me ia reconduzir porque era favorável à renovação das chefias na administração pública", explicou ontem ao PÚBLICO Paiva Ribeiro, técnico do Museu de Lamego há 30 anos, director há 20 (período em que concorreu ao cargo duas vezes). "Ora, o argumento da antiguidade é ilegal, pelo que só posso pensar que o director do IMC tem uma agenda escondida que é ética e deontologicamente reprovável." Lembrando que, na anterior avaliação, Brigola considerou o seu desempenho "relevante" (a nota seguinte é "excelente"), Paiva Ribeiro fez questão de sublinhar: "Isto é claramente uma perseguição pessoal porque não tem qualquer fundamento profissional. João Brigola reconduziu recentemente colegas dos museus e dos palácios com tantos ou mais anos do que eu de direcção." Pais de Brito, por exemplo, dirige Etnologia há 19 anos, Silvana Bessone é responsável pelo Museu Nacional dos Coches há 20 e Isabel Silveira Godinho está à frente do Palácio Nacional da Ajuda há 31.

O director de Lamego garante que a "perseguição pessoal" de que fala se deve às posições públicas que tem vindo a tomar em relação à desorçamentação do sector, à progressiva perda de autonomia dos 28 museus do IMC e às transferências de alguns para a tutela das direcções regionais de Cultura, "que neste momento não têm as competências necessárias para os acompanhar".

Ontem o PÚBLICO não conseguiu entrar em contacto com o director do IMC.

Agostinho Paiva Ribeiro não será o primeiro a contestar a não recondução. No dia 20, Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia há 16 anos, anunciou que iria requerer a anulação do despacho em que Brigola oficializava a não renovação da sua comissão de serviço.

Na colecção do Museu de Lamego, que inclui 18 bens inscritos na lista dos tesouros nacionais, merecem destaque cinco pinturas do mestre português Vasco Fernandes (Grão Vasco), executadas entre 1505 e 1511, e quatro tapeçarias do renascimento flamengo, também do início do século XVI.

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