Queres ser palhaço? Aprende “a arte de ser ridículo”

No "Clown Laboratori Porto", criado há dois anos, aprende-se a dominar esta arte circense. Dizem até que é terapêutico

Um dos exercícios é dançar ao som de Abba Facebook do Clown Laboratori Porto
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Um dos exercícios é dançar ao som de Abba Facebook do Clown Laboratori Porto
O português é “mais bufão” do que o palhaço, assim como “mais grotesco, diz o professor Justin Sullivan/Getty Images/AFP
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O português é “mais bufão” do que o palhaço, assim como “mais grotesco, diz o professor Justin Sullivan/Getty Images/AFP

Enquanto dançam ao som de Abba e imitam “elefantes com o cio” ou “bacalhaus prestes a ser transformados em roupa velha”, cerca de 15 estudantes aprendem semanalmente no Porto “a arte de ser ridículo” e a “procurar o fracasso”. “Portugal tem uma relação difícil com o ‘clown’ e o ridículo”, diz à Lusa Pedro Fabião, que dirige há cerca de dois anos o "Clown Laboratori Porto" e orienta regularmente turmas de palhaços que pretendem sobretudo dominar a linguagem corporal da arte circense.

“Não sei se é por causa de algumas centenas de anos de Inquisição ou algumas décadas de ditadura, mas vejo alguma dificuldade por parte dos portugueses em exporem-se ao ridículo de uma forma consciente e com prazer”, considerou o professor, para quem o português é “mais bufão” do que o palhaço, assim como “mais grotesco", porque o palhaço “envolve uma certa leveza e prazer com o facto de ser idiota”.

Na sala de ensaios que partilham com a companhia de teatro Palmilha Dentada, na Rua da Alegria, no Porto, os "workshops" que Pedro Fabião dirige servem “principalmente para desaprender o que se aprende lá fora”, ou seja, “esconder o fracasso e aquilo que nos faz sentir ridículos”. “Aqui o processo é o inverso: colocamo-nos em situações que necessariamente nos expõem ao ridículo e continuamos abertos e expostos à comunicação com o público”, diz o orientador do "Clown Laboratori Porto", para referir que “há quem diga que é terapêutico”.

O sonho de ser Palhaço Sem Fronteiras

Antes de realizar vários exercícios de aquecimento, Hugo Vieira, 32 anos, concorda com o tutor e explica que frequenta os "workshops" para “aprender a escutar, a sentir, a partilhar, a rir” e a conhecer melhor a sua “parte idiota e estúpida”. Para Cecília Dias, também com 32 anos, os "workshops" servem como “estímulo” para criar o seu próprio espectáculo e perseguir o sonho de trabalhar com os “Palhaços Sem Fronteiras”, uma organização que trabalha em “zonas carenciadas do planeta, ou zonas onde houve cataclismos naturais, para dar apoio à população”, explicou.

“Venho para aqui porque o ‘clown’ é uma experiência que tem crescido ao longo da minha vida e que culminou na Dinamarca, onde fiz trabalho de ‘clown’ num hospital”, explicou a aprendiz de palhaço, para quem o trabalho com crianças é uma “experiência humana muito profunda”, na medida em consegue “fazer brotar sorrisos em crianças que estão em condições físicas muito complicadas”, o que revela nesta arte circense “um lado social muito importante”.

Pedro Fabião explica que o conceito “começou como uma pequena brincadeira mas está a tornar-se um caso sério.” “Começou por mover alguns pares de pessoas, depois passou para dezenas, agora movemos centenas. Quando passarmos aos milhares a praga vai ser imparável. Tenham cuidado porque mais tarde ou mais cedo um filho vosso, ou um avô vosso, pode chegar-nos às mãos. Mas um pai não. Só um filho ou um avô. Temos um nicho etário muito preciso. Mas o plano é mesmo de conquista do poder.”

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