Relatório da PSP sobre morte de irmãs afasta hipótese de crime

De acordo com a mesma fonte, o conteúdo do relatório, revelado à Lusa, afasta a hipótese de ter ocorrido um crime, porque as “janelas e as portas que davam para o exterior estavam todas fechadas e trancadas por dentro” e estavam em casa cadernetas da Caixa Geral de Depósitos e algum dinheiro.

O relato policial adianta que dentro do apartamento da Travessa do Convento de Jesus onde habitavam as duas irmãs, uma acamada, de 80 anos, e outra de 74, portadora de doença cancerígena, “havia comida seca e podre em cima da mesa, loiça suja no lava-loiças e lixo doméstico acumulado”.

As circunstâncias da morte das duas idosas, encontradas já em avançado estado de decomposição, são consideradas dramáticas, uma vez que os indícios aprontam para que a mais nova morreu devido à doença prolongada e deixou de prestar auxílio à irmã, que acabou por morrer também.

A PSP foi chamada a intervir cerca das 14h40 de quarta-feira, depois de alertada por um casal de vizinhos alemães que regressaram de férias no estrangeiro e que estranhou o facto de ninguém responder à campainha.

Para aceder à residência, a PSP pediu a intervenção de elementos do Regimento de Sapadores Bombeiros, que conseguiram entrar por uma janela e abrir a porta. Os polícias depararam-se com as duas mulheres mortas, “uma caída de cúbito dorsal e outra de lado”, junto à cama onde a mulher mais velha estava acamada.

Fonte do Comando Metropolitano de Lisboa confirmou à Lusa que as duas idosas “nunca foram sinalizadas à PSP por familiares ou vizinhos”.

Relatos de vizinhos, recolhidos pelos elementos da PSP, testemunham que a irmã mais nova “mantinha distância com os vizinhos, passando a maior parte do tempo fechada em casa” com a acamada, saindo apenas à rua para comprar bens de necessidade.

Uma outra fonte contactada pela Lusa disse que a mulher acamada, apesar do seu avançado estado de decomposição, “não apresentava indícios de subnutrição”, sendo colocada a hipótese de ter falecido de insuficiência cardíaca, facto que só poderá ser comprovado pela autópsia.

A secretária da Junta de Freguesia das Mercês, Eunice Gonçalves, disse hoje à Lusa que, neste caso, “não se trata de uma situação de idosos isolados”, uma vez que a irmã mais nova “tinha boa mobilidade e tratava muito bem da irmã que estava acamada”.

“Não havia caso de isolamento ou abandono, não tinham família e era a irmã mais nova, que tinha autonomia física e financeira que tratava da outra”, referiu Eunice Gonçalves, acrescentando que a situação era conhecida da Junta e que as duas irmãs “nunca recorreram a nenhum dos serviços, nem à Misericórdia de Lisboa, nem a apoio domiciliário”.

Contactada pela Agência Lusa, a Misericórdia de Lisboa confirmou não teve qualquer contacto daquela família.

A autarca adiantou que no último recenseamento, a irmã mais nova deslocou-se à junta das Mercês e fez também o recenseamento da mais velha.