Murdoch paga a vítimas de escutas ilegais que o acusaram de tentar abafar escândalo

Foto
"Desconfiei até das pessoas que me eram mais próximas", disse Law Andrew Cowie/AFP

News International faz mea culpa , mas a pressão sobre o grupo promete continuar. Actor Jude Law e ex-vice-primeiro-ministro John Prescott desistiram de queixa a troco de indemnização

A filial britânica do império de Rupert Murdoch aceitou indemnizar 37 pessoas escutadas pelo News of the World e que acusavam os responsáveis do grupo de terem tentado abafar o escândalo, destruindo provas. A News International admite, ainda que indirectamente, que sabia há muito que a intercepção de telefones e emails era habitual no agora extinto tablóide.

Entre os que chegaram a acordo para desistir das queixas em tribunal está o actor Jude Law, que teve várias vezes o seu telemóvel sob escuta entre 2003 e 2006, e que irá receber uma indemnização de 150 mil euros. Igualmente compensada será a sua ex-mulher Sadie Frost (60 mil euros), o ex-vice-primeiro-ministro John Prescott (48 mil euros), e o futebolista Ashley Cole, que desistiu do processo a troco de uma quantia não revelada.

Só para encerrar os 18 casos conhecidos ontem Murdoch terá de desembolsar perto de 780 mil euros, mas o tribunal foi informado de que outros 19 lesados chegaram também a acordo, ainda que tenham optado por não revelar pormenores sobre o caso.

Esta não é a primeira vez que a News International - ou a News Group Newspapers, proprietária de vários jornais detidos por Murdoch no Reino Unido - paga somas avultadas para evitar que o caso das escutas chegue a julgamento. Só que desta vez os advogados de dezenas de queixosos juntaram esforços e, nos últimos meses, forçaram a empresa a entregar-lhes documentos que, segundo eles, provam não só a real dimensão do escândalo, como as tentativas para o encobrir.

O grupo Murdoch recusou ontem fazer comentários, mas os advogados deixaram pouca margem de dúvida sobre este mea culpa . "A News Group aceitou pagar as indemnizações com base na informação de que trabalhadores seniores e dirigentes estavam a par das más práticas e tentaram deliberadamente enganar os investigadores e destruir provas", lê-se no comunicado conjunto conhecido pouco antes de o juiz responsável pelo processo ter sido informado dos acordos. Em causa está, segundo o Guardian , a destruição de inúmeros emails trocados entre dirigentes do grupo.

A Reuters escrevia ontem que, ao pagar estas compensações, a News International tenta aliviar a pressão a que está sujeita desde que, em Julho, se ficou a saber que detectives contratados pelo NoW acederam ao telemóvel de Milly Dowler, uma adolescente assassinada em 2002, apagando mensagens deixadas no seu voice mail . O caso, e a torrente de revelações surgidas depois disso, forçaram Murdoch a encerrar o seu título mais lucrativo no país. Mas a drástica decisão não pôs fim à polémica: vários antigos editores e jornalistas do tablóide foram detidos após a Scotland Yard ter reaberto as investigações ao caso, a que se juntou depois um inquérito público conduzido pelo juiz Brian Leveson.

Só que a novela está longe do fim. Por um lado, há dez envolvidos nesta acção que não desistiram da queixa, pelo que muitas das provas recolhidas deverão ser reveladas no julgamento marcado para Fevereiro. Por outro lado, recordou a BBC, a Scotland Yard calcula que pelo menos 800 pessoas tenham sido escutadas pelos detectives contratados pelo tablóide e muitas delas poderão usar este processo em seu próprio benefício. "Isto é apenas a ponta do icebergue", disse ao Guardian o advogado da família de Milly Dowler, adiantando que "há muito a esclarecer, a menos que todos os casos se resolvam antes de chegarem a julgamento".

E além da enorme factura que tem pela frente, a admissão de que houve tentativas para encobrir o caso aumentará a pressão sobre James Murdoch, o presidente da News International. O filho mais novo de Rupert Murdoch acusa os seus subordinados de lhe terem escondido o caso até 2011. No entanto, se o juiz Levenson exigir ter acesso às provas recolhidas neste processo, em breve pode ficar a saber-se há quanto tempo o sucessor de Murdoch sabia das escutas.

Sugerir correcção