Não era preciso chegarmos, já perto do fim de “Apollonide”, ao momento em que as prostitutas de um bordel parisiense de 1900 dançam ao som dos Moody Blues para perceber que o filme de Bertrand Bonello não quer ser um objecto realista. Esta reinvenção do quotidiano de um bordel de luxo na transição do século XIX para o XX como um espaço onde a submissão sexual é a chave da liberdade feminina numa sociedade patriarcal onde as mulheres (e por arrasto as prostitutas) são seres de segunda classe é uma espécie de “féerie” luxuriantemente decadente, de uma sublime e requintada elegância, como só o cinema é capaz de criar. O Apollonide de Bonello não é um bordel do corpo tanto como um bordel da alma, onde o sexo é simultaneamente salvação e perdição; é um filme deslumbrantemente esquivo e sedutor, espécie de equivalente fílmico das alucinações geradas pelo absinto.
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