Stiglitz pede mais ajuda para "periféricos"

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Foto: Nuno Ferreira Santos

Para o Prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, a resposta da zona euro à crise - mais austeridade e reforço das regras orçamentais - pode prevenir uma crise futura, mas não basta para resolver a crise actual.

Para isso, defende, é preciso crescimento, mais assistência aos países debilitados do euro e um banco central que não ponha os interesses dos bancos à frente dos interesses dos países.

Em declarações por email ao PÚBLICO e a outros dois órgãos de informação, Joseph Stiglitz, que vem a Portugal na próxima semana, defende que, enquanto a zona euro for uma união monetária sem uma administração unificada em termos económicos e políticos, há o risco de um país ser forçado a sair do euro ou de a própria moeda única entrar em colapso.

Para evitar este caminho, não basta o acordo para um novo tratado intergovernamental de reforço da disciplina orçamental, como aquele a que chegaram os líderes europeus em Dezembro. "Mesmo se estas medidas prevenirem a próxima crise, não são a solução para a crise actual", defende o economista, dizendo que é apenas uma questão de tempo até os mercados perceberem isso.

Stiglitz, que vem a Lisboa dia 18 para participar no IV Congresso da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), defende uma maior integração económica - "e não apenas um reforço das regras orçamentais", que teria de passar, nomeadamente, pela criação de eurobonds (emissão conjunta de dívida europeia) e pela reestruturação da dívida de um ou mais países europeus. Além disso, o economista diz que o Banco Central Europeu (BCE) tem de passar "a pôr os interesses dos países europeus à frente dos interesses dos bancos", abandonando a sua relutância quanto à compra e à reestruturação da dívida pública.

Quanto aos países em dificuldades", Stiglitz defende que é preciso "mais assistência, bem além dos actuais programas" de ajuda. Para o prémio Nobel, a insistência na via da austeridade arrisca-se a ser uma aposta falhada. Sem crescimento, os níveis de dívida de alguns países não serão sustentáveis e "é mesmo possível que a austeridade possa levar a um aumento do rácio da dívida pública", alerta, referindo-se ao impacto na economia dos cortes na despesa e dos aumentos de impostos.

A agravar o cenário, as próprias reformas estruturais, que são consideradas essenciais em vários países, como Portugal, podem vir a piorar a situação no curto prazo, avisa Stiglitz, dando como exemplo o facto de a redução de salários (para aumentar a flexibilidade do mercado de trabalho) poder provocar quebra do consumo e, consequentemente do emprego.

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