Governo francês insiste numa taxa Tobin e a praça financeira virou-se contra ele

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Sarkozy e Merkel reúnem-se segunda-feira em Berlim Foto: Philippe Wojazer/Reuters

A insistência com que o Governo francês quer aplicar um imposto sobre as transacções financeiras está a deixar bancos, gestoras, empresas e seguradoras agitados em França. A praça financeira insurgiu-se frontalmente contra o projecto do Presidente Nicolas Sarkozy. Mas o Governo já veio hoje avisar que a taxa Tobin, como é conhecido o imposto, é para avançar – dentro de semanas, mesmo correndo o risco de ficar isolada na zona euro, Paris seguirá nesta ambição. “Não é porque os [meios] financeiros dizem ‘não queremos ser taxados’ que vamos ouvi-los”, assegurou um membro do Governo.

Unanimidade é palavra que Sarkozy não pode, pelo menos para já, aplicar ao projecto de aplicar um imposto sobre as transacções financeiras, uma bandeira política sua que quer ver posta em marcha antes das Presidenciais francesas. Sobretudo quando o Presidente francês vai amanhã, segunda-feira, a Berlim reunir-se com a chanceler alemã, Angela Merkel, num encontro que terá na agenda inevitavelmente a questão da crise do euro. Neste cenário, Sarkozy apresentar-se-á na Alemanha sob fortes críticas internas face à determinação de avançar unilateralmente com uma taxa Tobin – uma medida que, segundo os seus defensores, se destina a travar a especulação financeira.

As reacções hostis multiplicaram-se nos últimos dias, entre economistas, oposição e mesmo membros do seu partido, o União por um Movimento Popular (UMP). Agora, os meios financeiros insurgiram-se contra um projecto que, dizem, deixará enfraquecida a segunda maior economia da zona euro se não for aplicada a nível europeu.

Para Sarkozy, a medida é incontornável, mesmo que para isso tenha de arrepiar caminho e avançar com a medida unilateralmente. Isso mesmo foi sublinhado por Benoist Apparu, secretário de Estado-adjunto com a pasta da Habitação, ao declarar neste domingo que o projecto poderá dar entrada no Parlamento francês já em Fevereiro.

A proposta de criar uma taxa Tobin é cara a Sarkozy. Primeiro, recebeu o apoio da Alemanha para a União Europeia avançar com este imposto entre os seus membros. Mas, depois da oposição declarada das maiores potências mundiais e da última cimeira europeia, França ficou praticamente isolada a defender a medida como forma de combater a especulação financeira e a instabilidade dos mercados. Ao ponto de Henri Guaino, conselheiro especial de Sarkozy, já ter vindo dizer que França deveria dar o exemplo, mesmo se a Alemanha não der luz verde para a medida avançar no curto prazo (ainda em Janeiro).

Sarkozy vai amanhã a Berlim para um almoço de trabalho para preparar a cimeira de 30 de Janeiro. A questão da taxa Tobin dificilmente passará em branco, depois de o debate ter estalado nos últimos dias em França – e quando, há uns meses, o Governo alemão até admitia uma taxa Tobin a nível europeu, mas circunscrita à zona euro.

Para a finança francesa, o risco que o Governo corre é, precisamente, o de ficar isolado se seguir em frente sozinho com a medida. O argumento: a medida perderia eficácia e, contra o seu propósito, em vez de reforçar a economia francesa, traria o enfraquecimento. O imposto, que deve o seu nome ao Nobel James Tobin, que tornou célebre este tipo de taxas, consiste em aplicar uma taxa ligeira sobre as transacções internacionais de capitais – nos mercados bolsistas, de dívida ou nos chamados mercados de futuros (em que se negoceia, por exemplo, petróleo).

A associação Paris Europlace alertou na sexta-feira que, se a taxa for aplicada apenas em França, há dois grandes perigos para o futuro da economia francesa: primeiro, a “deslocalização das actividades relevantes de bancos, companhias de seguros e de gestão, para o benefício das grandes praças financeiras mundiais”; segundo, a consequente perda de “controlo do financiamento” da economia e do papel da praça de Paris na economia europeia e mundial.

Isto quando França está sob a ameaça de perder o rating AAA das três grandes agências de notação norte-americanas, com as implicações que – reconhece o próprio Governo – a perda da nota máxima de avaliação da dívida teria na zona euro.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, referiu-se neste domingo ao projecto francês. A França está no seu direito de avançar, referiu, mas se a intenção for instaurá-la a nível europeu – e não a nível mundial – terá a oposição do Reino Unido.

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