Carvalho da Silva considera “inaceitável” que Cavaco não tenha falado do mercado de trabalho
“O Presidente abordou alguns conceitos e conteúdos que têm coerência, mas que depois são contrariados no resto do discurso. A coesão social é importante. O respeito por todos os portugueses e o combate à resignação também. Mas Cavaco Silva não pode resumir o diálogo social ao desafio da competitividade”, comentou o sindicalista, em reacção ao discurso de Ano Novo.
Segundo Carvalho da Silva, num ano em que os portugueses vão trabalhar mais horas, com menos férias, menos feriados, e com menos protecção do emprego, “é inaceitável que o Presidente da República não faça referências ao que se vive no mundo do trabalho”. A segunda crítica que o responsável lança passa pela questão europeia: “Cavaco Silva disse, e bem, que os líderes europeus já perceberam que a política dos pacotes de austeridade não tira a União Europeia (UE) da crise. Mas depois diz que temos que fazer o que nos mandam”.
Por fim, o sindicalista realçou que “o Presidente não pode dizer aos portugueses que somos todos responsáveis pela crise, quando todos sabemos que os problemas mais graves foram criados com os negócios escuros dos ‘BPNs’ e das Parcerias Público-Privadas (PPP)”.
Partidos insistem numa “agenda para o crescimento e emprego”Do lado dos partidos, o PS reagiu sublinhando que “há vários meses tem vindo a defender a criação de uma agenda para o crescimento e emprego”, e que partilha com o Presidente da República o essencial da sua mensagem de Ano Novo. “O essencial da mensagem de Ano Novo do Presidente da República é partilhado pelo PS. Há vários meses que o líder do Partido Socialista tem vindo a defender a criação de uma agenda para o crescimento e para o emprego. Só o Governo não compreendeu essa necessidade”, afirmou à Lusa José Luís Carneiro, do secretariado nacional do PS.
“É cada vez mais notório que o Governo está isolado nesta sua insensibilidade para ouvir os sectores mais dinâmicos e mais activos da sociedade portuguesa”, acusou ainda o deputado socialista. A “insensibilidade” do executivo, especificou José Luís Carneiro, diz respeito às “questões sociais”, mas também se reflecte na “desvalorização da concertação social”.
Já o secretário-geral dos sociais-democratas, José Matos Rosa, afirmou que o PSD acompanha as preocupações manifestadas por Cavaco. “O PSD acompanha as preocupações manifestadas pelo senhor Presidente da República quanto à gravidade da situação que Portugal atravessa e quanto ao peso dos sacrifícios que as circunstâncias vão exigir de todos os portugueses ao longo do próximo ano”, declarou Matos Rosa aos jornalistas, na sede nacional deste partido, em Lisboa.
O secretário-geral dos sociais-democratas acrescentou que o PSD “mantém que é muito importante que se veja a questão da equidade na repartição dos sacrifícios de um modo verdadeiramente abrange, com atenção para todos os grupos socioeconómicos”. Por outro lado, Matos Rosa afirmou que “o PSD não deixará de incentivar o Governo a pautar a sua acção por políticas que restabeleçam o clima de confiança e reforcem a aliança intergeracional entre os portugueses” e “renova também a sua vontade de debater com todos os grupos sociais e políticos as suas propostas e a sua visão estratégica para o país”.
Matos Rosa reiterou a ideia que tem sido repetida pelos membros do Governo e da maioria PSD/CDS-PP de que 2012 será um ano de transformações e de reformas estruturais “que renovarão o país, que inverterão o ciclo de declínio que se iniciou há vários anos e que farão de Portugal uma sociedade mais próspera e mais justa”.
O eurodeputado Nuno Melo, do CDS-PP, por seu lado, aplaudiu também o conteúdo da mensagem, destacando o teor nacional, e não partidário, do discurso. “A ética social na austeridade, que o CDS tantas vezes tem defendido que é necessária nestes momentos difíceis e que teve já tradução em medidas políticas, como o apoio à população mais idosa, através da subida das pensões mais baixas, o apoio às instituições de solidariedade social (IPSS) ou a majoração do subsídio de desemprego nos casos em que ambos os membros de um casal estão nessa situação”, foi outro ponto salientado pelo eurodeputado.
Depois, realçou “as expectativas de crescimento que já existem a partir de 2013”, bem como “a origem da crise”, que no seu entender deve levar a uma “mudança de hábitos na sociedade e no próprio Estado”. A última nota deixada por Nuno Melo foi relativa ao “consenso e concertação que têm que haver”, referindo que, para que seja possível voltar ao rumo do crescimento económico, “os trabalhadores e os patrões têm que estar no mesmo lado e encontrarem patamares de entendimento.
“Um Presidente altamente comprometido com as políticas ruinosas”Em sentido contrário, o PCP disse que o discurso confirma “um Presidente altamente comprometido com as políticas ruinosas que têm vindo a ser concretizadas no país”. “É um homem que se colocou claramente ao lado do pacto de agressão e não dos trabalhadores do país, quando referiu a inevitabilidade relativamente ao acordo que foi negociado com a troika internacional”, afirmou à Lusa Jorge Pires, da comissão política do Partido Comunista Português.
O responsável sublinhou que o PCP “também acredita no futuro do país, mas um futuro que passa por combater as políticas que têm conduzido ao empobrecimento do povo e do próprio país”. O apelo de Cavaco Silva a uma agenda para o crescimento e emprego é uma questão que o PCP “anda a colocar há anos”, reclamou o dirigente comunista. “E o actual Presidente da República, quer enquanto primeiro-ministro, durante dez anos, quer nestes primeiros seis anos enquanto Presidente colocou-se sistematicamente ao lado de políticas que são contraditórias com essa tese”, acusou.