Qual bolo-rei, qual quê?! Há quem odeie o Natal

O Natal pode ser a altura mais insuportável do ano para algumas pessoas. Socióloga revela algumas das razões para isso

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Luzinhas nas cidades, minúsculos Pais Natal pendurados nas chaminés das casas, superfícies de venda de árvores à pinha por causa da compra de pinhas e pinheiros, centros comerciais a abarrotar… Só esta descrição bastaria para fazer latejar os nervos de uma pessoa que, já de si, não simpatize com o Natal.

Mas para aquelas que publicam no mural do Facebook algo do género: “Quero um presente vosso (…). Quero que matem as renas, amarrem o Pai Natal a um pinheiro (…)”; bem, para essas, é criada uma nova categoria, a das que odeiam o Natal.

Chegam mesmo a quantificar o seu ódio de estimação: “Quanto é que detesto o Natal? De 0 a 10, diria um oito”. Ok, já deu para perceber que Bruno Soares, músico e artista plástico de 31 anos, actualmente desempregado, faz questão de dar a conhecer, no Facebook, as suas prendas mais ansiadas, e que a Rui Pereira, gestor de projecto de 32 anos, só lhe faltam dois valores para rebentar de asco pela quadra festiva.

“Só não digo mesmo dez, pois agora que tenho sobrinhos e um filho pequeno, tornei-me um pouco mais tolerante, porque existe alguma magia de Natal para os miúdos.” É caso para dizer: benditas crianças, por apaziguarem aquela casa.

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Faz desesperar qualquer um

É talvez por essa razão que Bruno Soares considera horrível o facto de as “fazerem acreditar que existe uma pessoa que, de facto, não existe, e que lhes vai dar presentes”. “Acho que o Natal é uma invenção capitalista”, diz. De certa forma, Rui Pereira concorda: “Não suporto as luzes e os enfeites. Acho horrível, porque é, efectivamente, um apelo ao consumo”.

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De 0 a 10, Rui Pereira dá um oito ao seu ódio pelo Natal DR

Crentes vs não crentes

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Faz desesperar qualquer um

Para Helena Vilaça, socióloga da Universidade do Porto e investigadora na área da religião, sem dúvida que o consumismo é um factor que contribui para as pessoas não gostarem do Natal, mas também refere que “podem existir outras razões” para isso. Por exemplo, o facto de se tratar de uma celebração religiosa é, por si só, um motivo de divergência para os que não são crentes.

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De 0 a 10, Rui Pereira dá um oito ao seu ódio pelo Natal DR

“Há aquelas [pessoas] que são mais do que secularizadas, são secularistas – que são uma minoria – e, portanto, acham que o Natal não devia ser celebrado, ou pelo menos que não deveriam existir os feriados, porque é uma festa de origem religiosa”, explica a socióloga.

A solidariedadezinha de Natal

No que diz respeito aos feriados, Bruno Soares não podia estar mais de acordo, porque, apesar de desempregado, trabalha todos os dias. A religião também não lhe diz nada. A ele e a Rui que, apesar de educados em contextos cristãos, com o decorrer da vida foram-se desligando da crença. Apesar de não gostarem do Natal, ainda vão preservando a “oportunidade para estar com a família”.

Rui Pereira discorda da imposição do Natal às pessoas não católicas

Outra vez o raio deste filme?

Familiares esses que, de tão importantes que são, podem representar uma razão de desgosto. “Existem outras [pessoas] que deixam de gostar do Natal, quando morre alguém. Como é uma festa de família passa a ser um momento triste, pelas memórias que traz. É comum as pessoas dizerem ‘este ano não vai haver Natal’, quando estão de luto”, refere Helena Vilaça.

“É um dia muito triste para muita gente, porque as pessoas ficam mais sensíveis e as que têm necessidades ainda as sentem a dobrar, o que eu acho pesadíssimo”, afirma Bruno. Mas para Rui, pesadíssimo e insuportável é ter de levar com as músicas e filmes de Natal. Já se sabe que, neste aspecto, até Macaulay Culkin apanha por tabela. “É uma seca, todos os anos são sempre os mesmos filmes”.

Não teremos sempre Paris, ou melhor, “Casablanca”, mas teremos sempre “Sozinho em Casa”, para nos avisar que o Natal está aí à porta.

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