Faculdade de Medicina Dentária dá consultas grátis a carenciados

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Cerca de 40 pessoas que dificilmente teriam acesso a um dentista foram ontem à consulta Rui Soares

Entre batas brancas e sorrisos maculados, a clínica da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL) esteve, esta sexta-feira, praticamente lotada. Quem chegava vinha por necessidade, por tratamentos dentários oferecidos por profissionais e alunos. Quem chegava vinha da rua, onde a saúde oral não é um direito, mas antes um privilégio.

Luís foi sem-abrigo durante seis meses. Vive agora numa pensão paga pela segurança social. “Sempre é melhor do que viver na rua”, confessa. Foi ontem à FMDUL para uma consulta dentária, o que não fazia há mais de 20 anos. Como ele, muitos outros tiveram ontem acesso a cuidados de saúde oral gratuitos, uma iniciativa inserida na festa de Natal da Comunidade Vida e Paz.

“Ajuda a Sorrir”, assim se chama o projecto, juntou esta sexta-feira mais de 55 voluntários, entre dentistas, higienistas orais e alunos da FMDUL. Numa tarde apenas, 82 tratamentos dentários, desde extracções de dentes a destartarizações, foram realizados a 42 pessoas que dificilmente teriam acesso aos cuidados de outra forma. Segundo Dário Vilela, secretário-geral da FMDUL, os números ascenderam relativamente a 2010, o primeiro ano do projecto, quer a nível de pacientes, quer a nível de voluntários.

Uns vieram pela primeira vez, outros eram já repetentes. O que, reforçou João Manuel Marques, director da FMDUL, é prova da satisfação daqueles que já no ano passado vieram às consultas. Para Rute Gomes, médica dentista voluntária no projecto, é muito positivo que assim seja. Precisamente porque, reforça, um dos objectivos é “incutir o hábito” e “ajudar na prevenção”. O que, acredita Raquel Simões, aluna do curso de Higiene Oral na Faculdade, para além do benefício que traz para a saúde, resulta também numa influência “a nível social”, em termos de integração.

Uma integração que não parece alcançável à maioria dos que vivem na rua. Di-lo António, sem-abrigo há tantos anos que já nem recorda quantos, pelos problemas que teve com o álcool. Ou, afirma Nuno – que ocupa uma casa abandonada há três meses –, pela grande quantidade de pessoas necessitadas que recorrem à segurança social e que, como ele, não conseguem ajuda. Ou ainda pela falta de oportunidades que, para a ucraniana Nádia, a incapacita de pagar as suas próprias contas.

São estes os problemas que tenta contrariar a Comunidade Vida e Paz, promotora da iniciativa, e que, desde ontem e até domingo, tem redobrado forças nesse sentido. Durante este fim-de-semana, no Campus da Universidade de Lisboa, os sem-abrigo têm várias comodidades ao seu dispor, que vão desde a distribuição de medicamentos e roupas, a rastreios e cuidados de higiene. Uma iniciativa a que a FMDUL se associa, assegurou o secretário-geral da faculdade, por acreditar no projecto e, acima de tudo, por colocar a academia “ao serviço de uma causa”.

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