Objectivo da auditoria cidadã é “desarmar ideias feitas”, diz Carvalho da Silva

O “grande” contributo da Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública poderá ser conseguir desarmar ideias feitas, defendeu hoje o secretário-geral da CGTP, dando como exemplos a responsabilidade pela crise e a inevitabilidade da actual situação do país.

Durante o dia de hoje, a Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública realiza a “Convenção de Lisboa” com o propósito de debater o projecto e eleger os nomes da comissão que vai realizar a auditoria.

Trata-se de uma iniciativa lançada por um grupo de cidadãos, entre os quais a antiga secretária de Estado da Educação socialista Ana Benavente, o economista José Castro Caldas e o secretário-geral da Confederação-Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP-In), aprovada na assembleia popular com que terminou a manifestação de movimentos sociais que ficaram conhecidos pelos “indignados”, realizada em Lisboa a 15 de Outubro.

Em declarações à Lusa, no final da primeira parte dos trabalhos, durante a manhã de hoje, o líder da CGTP apontou que o país não vai conseguir sair do “buraco” em que está metido “sem a consciencialização, a mobilização e responsabilização das pessoas e organizações na sociedade”.

“Esse é um grande desafio, mas esta iniciativa tem objectivos muito mais amplos, pode ser um contributo extraordinariamente importante para desarmar ideias feitas que estão inculcadas, metidas à força na cabeça das pessoas, como seja de que somos todos responsáveis, como se fossemos todos responsáveis por igual”, defendeu Carvalho da Silva.

Na opinião do sindicalista, o país e a sociedade portuguesa não podem saber para onde caminhar em segurança, se não sabem de onde vêm e porque é que aconteceu o actual nível de endividamento de Portugal.

Carvalho da Silva acredita que há alternativas para o país, contrariando aquilo que diz ser a ideia generalizada de que a actual crise económico-financeira era inevitável e acreditando que a auditoria às contas públicas pode revelar uma história diferente.

“A propaganda tem sido que temos todos andado a viver acima das nossas possibilidades e essa treta toda. É evidente que os grandes buracos que deram origem à situação em que estamos, os grandes buracos foram outros, foram, se quisermos, a utilização indevida de recursos que eram de todos e o encaminhamento para formas de funcionamento dos negócios que eram fraudulentos”, sublinhou o líder da CGTP.

Igualmente presente no decorrer dos trabalhos, o presidente do Comité belga para a anulação da dívida do terceiro mundo (CADTM), que esteve envolvido na auditoria à dívida do Equador, lembrou as diferenças com a actual dívida portuguesa.

No caso do Equador, a auditoria foi pedida pelo próprio presidente da República que se comprometeu a resolver uma “dívida ilegítima”, ao contrário do que sucede em Portugal, onde a iniciativa é popular.

“É uma iniciativa da sociedade civil que vai tentar compreender o que representa a dívida, porque é que se endividaram, se é legítimo ou não o país endividar-se para de seguida, através da mobilização da sociedade, fazerem pressão”, explicou Éric Toussaint.

Na opinião do especialista em ciências políticas, esta iniciativa em Portugal pode também querer dizer que os cidadãos estão a querer quebrar com um aparente estado de apatia e a querer envolver-se na causa pública.

Éric Toussaint defendeu também a criação de uma Federação das Iniciativas para uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública, uma vez que já alastrou a outros países europeus como a Espanha, Grécia, França ou Irlanda, como estratégia de força para motivar a solidariedade de outros países europeus.

Durante a tarde de hoje, será tempo de discutir a proposta de resolução para uma iniciativa de auditoria cidadã e a ratificação da constituição da comissão da auditoria.

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