Sentiu grandes alterações no seu trabalho ao longo dos anos? Por exemplo, com a introdução dos computadores...
Eu ainda desenho com caneta, faço todos os desenhos à maneira antiga. Mas acho os computadores incrivelmente úteis. Não sou o tipo de ilustrador que gosta de linhas tortas. Gosto de geometria. Devia ter aprendido a mexer com os computadores sozinho...
Agora é mais fácil ser designer?
Muitas das pessoas com quem trabalho em ilustração fazem trabalhos maravilhosos, mas nunca há dinheiro. O dinheiro tem desaparecido, mas acho que isso tem que ver exclusivamente com a Economia.
O que é que pode fazer a diferença nesta área?
O essencial é ter uma ideia. Não serve apenas estar empregado por um estilo ou pela maneira como lidas com as coisas, mas pela forma como pensas sobre as coisas. Acho que essa é a diferença. Sempre pensei assim, mas é muito antiquado. Ter ideias não é importante para muitos ilustradores porque estão mais preocupados com aspectos decorativos. Não faço desenhos sobre coisas.
E esse é um problema?
Não, a ilustração de agora é maravilhosa. Dou aulas a mestrado e nem todos são ilustradores. Alguns são designers gráficos, outros, ocasionalmente, dançarinos ou fazem mobílias, o que é muito, muito mais interessante de certa forma. Eu não consigo fazer essas coisas.
Por que se tornou professor?
Para começar, pelo dinheiro. A razão principal de ensinar é poder discutir o que se está a fazer. Eu estou aqui porque quero justificar o que faço e transmiti-lo. Mas também quero que o discutam comigo e se estiver sentado a cinco metros da minha cama, só vou falar com o meu cão.
O que acha que será o futuro do design e da ilustração?
É uma bonita lacuna que vamos continuar a preencher, de formas inimagináveis. Com ferramentas que ainda nem inventamos. Mas não acho que as área de produção e pensamento irão mudar. Não me interessa se alguém carrega num botão que diz que a seguinte linha vai-se parecer com uma caneta ou se se desenha realmente com uma caneta. Não me importa, desde que seja um bom desenho e uma boa ideia. Acho que isso não vai mudar. E há imensos artistas que vêm para a área do design gráfico e levam emprestada a linguagem, o que acontece desde a Pop Art. Parece-me uma realidade enorme e muito entusiasmante e não vejo por que não resultará. Haverá sempre entraves, ainda para mais com a recessão, porque estas coisas implicam muito dinheiro.