George Hardie: "O dinheiro tem desaparecido do design"

O designer de "The Dark Side of The Moon" esteve no Porto no âmbito da ESAD talks. "Noticing Things" contou com um auditório apinhado. Antes conversou com o P3

George Hardie Fernando Veludo/nFactos
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Sentiu grandes alterações no seu trabalho ao longo dos anos? Por exemplo, com a introdução dos computadores...

Eu ainda desenho com caneta, faço todos os desenhos à maneira antiga. Mas acho os computadores incrivelmente úteis. Não sou o tipo de ilustrador que gosta de linhas tortas. Gosto de geometria. Devia ter aprendido a mexer com os computadores sozinho...

Agora é mais fácil ser designer?

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Led Zeppelin, dos Led Zeppelin DR

Muitas das pessoas com quem trabalho em ilustração fazem trabalhos maravilhosos, mas nunca há dinheiro. O dinheiro tem desaparecido, mas acho que isso tem que ver exclusivamente com a Economia.

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O que é que pode fazer a diferença nesta área?

O essencial é ter uma ideia. Não serve apenas estar empregado por um estilo ou pela maneira como lidas com as coisas, mas pela forma como pensas sobre as coisas. Acho que essa é a diferença. Sempre pensei assim, mas é muito antiquado. Ter ideias não é importante para muitos ilustradores porque estão mais preocupados com aspectos decorativos. Não faço desenhos sobre coisas.

E esse é um problema?

Não, a ilustração de agora é maravilhosa. Dou aulas a mestrado e nem todos são ilustradores. Alguns são designers gráficos, outros, ocasionalmente, dançarinos ou fazem mobílias, o que é muito, muito mais interessante de certa forma. Eu não consigo fazer essas coisas.

Por que se tornou professor?

Para começar, pelo dinheiro. A razão principal de ensinar é poder discutir o que se está a fazer. Eu estou aqui porque quero justificar o que faço e transmiti-lo. Mas também quero que o discutam comigo e se estiver sentado a cinco metros da minha cama, só vou falar com o meu cão.

O que acha que será o futuro do design e da ilustração?

É uma bonita lacuna que vamos continuar a preencher, de formas inimagináveis. Com ferramentas que ainda nem inventamos. Mas não acho que as área de produção e pensamento irão mudar. Não me interessa se alguém carrega num botão que diz que a seguinte linha vai-se parecer com uma caneta ou se se desenha realmente com uma caneta. Não me importa, desde que seja um bom desenho e uma boa ideia. Acho que isso não vai mudar. E há imensos artistas que vêm para a área do design gráfico e levam emprestada a linguagem, o que acontece desde a Pop Art. Parece-me uma realidade enorme e muito entusiasmante e não vejo por que não resultará. Haverá sempre entraves, ainda para mais com a recessão, porque estas coisas implicam muito dinheiro.

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