Os melhores discos de Clássica em 2011

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Escolhas de Cristina Fernandes e Rui Pereira

1. Debussy, Ravel e Massenet

Obras para piano e orquestra

Jean-Efflam Bavouzet (piano); Yan Pascal Tortelier (direcção)

Orquestra Sinfónica da BBC

Chandos

Foi Prémio Gramophone para melhor gravação de concertos e veio consagrar Jean-Efflam Bavouzet como o grande intérprete de Debussy e Ravel da actualidade. O seu pianismo é digno de comparação com o lendário Michelangeli pela clareza digital, o rigor analítico e a expressão serena com que todos os detalhes da partitura se materializam no espaço sonoro. Se é costume encontrar a Fantasia de Debussy a par dos Concertos de Ravel, já a inclusão de peças para piano de Massenet são mais um bónus dá um interesse acrescido ao CD que compete destemidamente com as grandes referências deste repertório. R.P.

2. George Frideric Handel

Agrippina

Alexandra Pendatchanska, Jennifer Rivera, Sunhae Im, Bejun Mehta, Neal Davies e outros (cantores), Akademie für Alte Musik Berlin, René Jacobs (direcção)

Harmonia Mundi

Depois do excelente trabalho em torno das óperas de Mozart, René Jacobs dedicou-se a reabilitar a versão inicial da "Agrippina", de Handel. O resultado é uma interpretação vibrante do ponto de vista dramático e musical, que conta com cantores de excepção. Ao contrário das obras posteriores (mais formatadas de acordo com os códigos da ópera séria), na "Agrippina" encontramos um misto de trágico e cómico, herdeiro da tradição da ópera veneziana do século XVII, que readquire todo o seu esplendor com a leitura de Jacobs. C.F.

3. Palestrina

Missa Papae Marcelli

Odecathon, Paolo da Col (direcção)

Arcana

Habituámo-nos a ouvir a "Missa Papae Marcelli", de Palestrina (ca. 1525-1594), em interpretações etéreas, por vezes marcadas pelo distanciamento emocional, mas o ensemble Odecathon, dirigido por Paolo da Col, contraria essa imagem. A inteligibilidade do texto e a espiritualidade da música permanecem intactas, mas a obra emerge das vozes do Odecathon com um novo impacto expressivo, timbres cálidos e delicadas nuances de fraseado. Uma gravação extraordinária que parece esculpir a música no espaço. C.F.

4. Franz Liszt

The complete songs, 1º volume

Matthew Polenzani (tenor), Julius Drake (piano)

Hypérion

Neste primeiro volume da integral das canções de Liszt que celebra o bicentenário do compositor húngaro, a Hypérion escolheu o tenor norte-americano Matthew Polenzani, uma das presenças assíduas da Metropolitan Opera de Nova Iorque, acompanhado pelo pianista Julius Drake. A escolha revela uma das vozes mais bonitas e timbricamente ricas da actualidade, com uma dicção perfeita e capaz de jogar nos registos do lied e da ópera. A escolha do repertório é reveladora de um Liszt genial e que merece ser descoberto e todas as suas facetas. Brilhante. R.P.

5. C.P.E. Bach

Concertos para cravo e orquestra

Andreas Staier (cravo), Petra Müllejans (direcção), Orquestra Barroca de Freiburgo

Harmonia Mundi

O período que estabelece a ponte entre as últimas grandes obras de Bach e Haendel, que encerram o Barroco, e as composições de Haydn e Mozart, que coroam o Classicismo, continua negligenciado nas salas de concerto e na discografia. No entanto, cada vez que esse repertório revela música merecedora de um lugar cimeiro na história da música. Justiça seja feita ao enormíssimo talento de Carl Philipp Emanuel Bach, cuja obra tem vindo a merecer a atenção crescente de todos os agentes do meio musical. Um disco genial pela combinação de sonoridades do cravo, tocado pelo virtuoso Andreas Staier, com a orquestra, dirigida pelo violinista Petra Müllejans. R.P.

6. O Solitude

Purcell

Andreas Scholl, Academia Bizantina, Stefano Montanari (direcção)

Decca

"O Solitude" é um eloquente testemunho da cumplicidade de Andreas Scholl com a música de Purcell. Da música de câmara aos trechos de semi-óperas como "King Arthur" e "The Fairy Queen", passando pela "Ode for Queen Mary", Scholl percorre diversos géneros e canta mesmo algumas páginas que não costumam ser abordadas por contratenores como o famoso "Lamento de Dido". Mas o que torna este registo tão especial é a sensibilidade e o impecável sentido de estilo na abordagem de trechos como "O Solitude", "Sweeter than roses" ou "Music for a while". C.F.

7. Henrich Isaac

Ich muss dich lassen

Capilla Flamenca, Oltremontano, Dirk Snellings (direcção)

Ricercar

A Capilla Flamenca habituou-nos a um trabalho de alto nível no âmbito da música renascentista, combinando o conhecimento histórico com uma notável inspiração musical. Este CD dedicado a Henrich Isaac (c. 1450-1517) oferece-nos uma versão lapidar da obra profana deste importante compositor quinhentista, contando com a elegância das linhas do quarteto vocal formado por Marnix De Cat, Tore Denys, Lieven Termont e Dirk Snellings e com fascinantes intervenções do alaúde, da viola da gamba, das flautas de bisel e dos cornetos e trombones do grupo Oltremontano. C.F.

8. Felix Mendelssohn

Concertos de infância

Gottfried von der Golts (direcção e violino), Kristian Bezuidenhout (pianoforte), Orquestra Barroca de Freiburgo

Harmonia Mundi

Com um sentido dramático e uma elegância herdados de Mozart, com novidades no gesto pianístico que dão sinais do virtuosismo novecentista, as primeiras obras concertantes de Mendelssohn (1809-1847) revelam uma criança genial. Interpretados em instrumentos de época, os dois concertos que o disco da Orquestra Barroca de Freiburgo apresenta dão-nos a conhecer o requintado e privilegiado ambiente familiar dos Mendelssohn. O primeiro concerto, escrito para piano e orquestra de cordas, data de 1822. O compositor tinha 13 anos. Segue-se um concerto de grandes dimensões para violino e piano, composto um ano mais tarde. A inspiração melódica é aqui superlativa e o violino do concertino e maestro Von der Goltz é absolutamente exemplar. R.P.

9. Franz Liszt

My Piano Hero

Lang Lang (piano)

Sony

Ou se adora ou se odeia, mas não deixa ninguém indiferente. Se até à data Lang Lang quase nunca convenceu com os seus excessos de expressivi-dade, na selecção de obras de Liszt que escolheu para prestar homenagem ao compositor no bicentenário do seu nascimento encontrou cenário perfeito para o pianismo estonteante que o caracteriza. No Concerto de Liszt transborda um virtuosismo que faz o maestro Valery Gergiev levar ao limite a sua direcção vulcânica, nas Raposódias húngaras faz parecer fácil o que parece impossível de ser tocado por uma só pessoa. No geral alcançou um equilíbrio que permite apreciar uma técnica abençoada pela providência. R.P.

10. Terra

Sete Lágrimas

Flipe Faria e Sérgio Peixoto (direção artística), Arte das Musas

Murecords

Este segundo CD do projecto "Diáspora.pt" é revelador da maturidade dos Sete Lágrimas num périplo por estilos e tradições que abrangem quase cinco séculos de música e repertórios eruditos e populares. O desempenho realça as particularidades linguísticas e teatrais de cada género (vilancico ibérico, peças populares do Brasil, Índia, Timor, Portugal e Espanha, a modinha, fado, romances sefarditas e outros) e os arranjos proporcionam frutuoso diálogo entre a música antiga, a música tradicional e o jazz. As vozes de Filipe Faria e Sérgio Peixoto, com o contrabaixo (Mário Franco) e a percussão (Rui Silva), são a espinha dorsal da gravação que se distingue também pelas prestações de Hugo Sanches (cordas dedilhadas) e Sofia Diniz (viola da gamba) e pelos brilhantes solos de Pedro Castro nas flautas de bisel e no oboé barroco. C.F.

Escolhas de Cristina Fernandes e Rui Pereira

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