Ser mais guloso quando se faz dieta não é imoral

Cientista portuguesa aponta a razão biológica para termos mais vontade de comer guloseimas quando fazemos dieta. A culpa é da leptina, uma hormona fundamental quando se fala de apetite

A cientista Ana Domingos trabalha actualmente na Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque DR
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A cientista Ana Domingos trabalha actualmente na Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque DR
A cientista Ana Domingos trabalha actualmente na Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque DR
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A cientista Ana Domingos trabalha actualmente na Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque DR
Estudo sobre como o cérebro regula o apetite foi recentemente publicado na “Nature Neuroscience josemanuelerre/Flickr
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Estudo sobre como o cérebro regula o apetite foi recentemente publicado na “Nature Neuroscience josemanuelerre/Flickr
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Estudo sobre como o cérebro regula o apetite foi recentemente publicado na “Nature Neuroscience josemanuelerre/Flickr

“Quando fazemos dieta, ficamos mais gulosos. Olhamos para um pastel de nata e, de repente, o valor que esse doce tem, em termos de prazer, é muito maior.”

Feita por uma jovem cientista portuguesa radicada nos Estados Unidos, esta afirmação não é propriamente novidade, já que qualquer um de nós pode chegar a tal conclusão. Mas como cientista que é, Ana Domingos teve de demonstrar a sua observação empírica em laboratório.

Foi bem sucedida e, em parceria com J. Friedman, o seu estudo sobre o modo como o cérebro regula o apetite foi recentemente publicado na revista “Nature Neuroscience”.

A hipótese de partida da cientista, natural de Lisboa, diz que este tipo de distúrbio de comportamento, que compromete a dieta, se deve a “reduções da leptina”, uma hormona que, entre outras funções, tem um papel primário no controlo do metabolismo dos seres humanos. “À medida que perdemos peso, a concentração da leptina cai”, explica.

Deste modo, “níveis muito baixos desta hormona fazem uma fome desmedida, incontrolável e insaciável”, explica a cientista de 35 anos, actualmente a trabalhar na Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque. “É por isso que os pacientes que não têm esta hormona, para além de serem obesos, têm este tipo de fome.”

Leptina, a protagonista

Ana Domingos resume: “ficar mas guloso, justo quando se tem de fazer dieta, não é um problema moral mas sim mais uma manifestação biológica da leptina”, uma hormona “negligenciada pelos nutricionistas” e que pode ser uma peça fundamental no processo de perder ou ganhar peso.

É que a leptina, a protagonista deste estudo, está envolvida não só na sensação de fome – “algo que se pode tentar enganar com truques dietéticos”, como no “quanto gostamos de determinados alimentos, principalmente os açucarados”, aponta.

Ana quer ver a terapia de substituição hormonal numa fase de dieta a chegar a mais pessoas: “pode ser que uma dieta funcione melhor se restabelecermos os níveis perdidos de leptina”.

Da Matemática ao estudo do cérebro

O percurso de Ana Domingos é “um bocadinho irregular”. Não somos nós que o dizemos, é a própria. “Licenciei-me em Matemática porque para mim era fácil e para os outros não.” Desde cedo deu explicações e, a meio do curso, achava que ia estudar Matemática para o resto da vida.

O Programa de Doutoramento em Biologia e Medicina da Gulbenkian trocou-lhe as voltas. Incentivava os alunos a “aprender o que se faz lá fora, não só em termos técnicos mas, principalmente, culturais e sociais” e a cientista agarrou a oportunidade.

Ana Domingos foi, assim, para os Estados Unidos, onde já trabalhou com prémios Nobel. Agora está a tentar estabelecer-se em Portugal ou, até, noutro país europeu. O importante é ter condições para desenvolver o próximo projecto: “tentar encontrar como é que o nosso cérebro detecta a presença de nutrientes, tais como o açúcar, independentemente da língua”.

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