Vladimir Putin acusa Clinton de incentivaros protestos pós-eleitorais na Rússia

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Putin acusou a secretária de Estado de "marcar o tom" da oposição AFP/J. SCOTT APPLEWHITE

O ainda primeiro-ministro lembrou o que se passou na Ucrânia - manifestações levaram partidos pró-ocidentais ao poder - e diz que não hesitará em "defender a soberania russa"

O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, acusou os Estados Unidos de incentivarem os protestos contra os resultados das legislativas, que reconduziram no poder o partido Rússia Unida mas que a oposição considera fraudulentas.

Putin - que oficializou na terça-feira a sua candidatura às presidenciais de Março - responsabilizou directamente a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, dizendo que foi ela a "marcar o tom de alguns activistas da oposição". Com as críticas que fez ao processo eleitoral, Clinton "deu-lhes o sinal para começarem a trabalhar activamente", disse Putin, citado pela Reuters, referindo-se aos protestos que, desde segunda-feira, levaram milhares de pessoas às ruas.

A Casa Branca reagiu através do seu porta-voz, Joe Carne, que disse que os EUA "continuarão a alertar para as violações dos direitos humanos" na Rússia.

O chefe de Governo disse saber que "existe no país quem queira ver a situação evoluir como aconteceu ainda não há muito tempo na Ucrânia". Neste país, em 2004, os protestos pós-eleitorais acabaram por colocar no poder os partidos pró-ocidentais, mas Putin avisou que o Kremlin não hesitará em "defender a soberania russa".

O ainda primeiro-ministro russo considerou "particularmente inaceitável" que Governos estrangeiros "injectem fundos nos processos eleitorais", uma afirmação que recordou outra, na semana passada, quando apelidou de "judas" a organização de monitorização eleitoral Globos, responsável pela recolha de milhares de denúncias durante a campanha eleitoral e que é financiada pela União Europeia e pelos Estados Unidos da América.

"Se as pessoas agirem no respeito pela lei, ser-lhes-á concedido o direito de exprimirem a sua opinião", disse Putin, dirigindo-se aos opositores que saíram à rua. "Mas se alguém infringir a lei, então as forças da ordem devem exigir o respeito da lei por todos os meios". Segundo a imprensa russa, centenas de manifestantes foram detidos nos protestos dos últimos dias, entre eles vários dirigentes políticos e activistas, alguns deles condenados a penas de prisão de até 15 dias.

Nas duas últimas noites, pequenos grupos de activistas tentaram reunir-se no centro de Moscovo, mas a polícia e o Exército, nas ruas desde as vésperas das eleições de 4 de Dezembro, impediram que se concentrassem.

Novas manifestaçõesforam marcadas para amanhã, em toda a Rússia. Os organizadores esperam repetir o sucesso do protesto de segunda-feira, quando cinco mil pessoas se juntaram em Moscovo para contestar os resultados anunciados pela Comissão Central Eleitoral, no maior protesto desde a chegada de Putin ao poder, há 12 anos.

Segundo os dados oficiais, o Rússia Unida ganhou as eleições por 49,3% dos votos e manteve o controlo da Duma (câmara baixa do Parlamento), mas perdeu a maioria de dois terços que tinha na anterior legislatura. Os partidos da oposição consideraram que este resultado só foi possível graças a irregularidades e fraude e estão a exigir a anulação dos resultados e a repetição do acto eleitoral.

Num tom mais moderado, o Presidente russo, Dmitri Medvedev, defendeu que "o mais importante é que todos se acalmem e permitam que o novo Parlamento comece a trabalhar". "Se as pessoas quiserem pronunciar-se sobre as eleições, não há problema. É um reflexo da democracia", acrescentou, citado pela Itar-TASS.

Num congresso da Rússia Unida em Setembro, os dois homens anunciaram que em 2012, e após as presidenciais, trocariam de lugar. Putin, que passou quatro anos na chefia do Governo depois de ter cumprido os dois mandatos seguidos como Presidente que a Constituição permite, é de novo candidato à chefia do Estado.

Porém, os analistas têm notado a ausência de informações oficiais sobre o futuro de Medvedev.Com Ana Gomes Ferreira

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