Plano anticrise de Itália ronda 20.000 milhões de euros, primeiro-ministro abdica de salário

Foto
Ministra do Trabalho, Elsa Fornero, chorou quando teve de anunciar as medidas draconianas Foto: Reuters

O novo primeiro-ministro italiano, Mario Monti, parte para a cimeira europeia de 8 e 9 de Dezembro com um novo plano de austeridade pronto para responder à crise nos termos em que lhe pedem Bruxelas e os líderes do euro. Rigor e equilíbrio orçamental, num pacote de medidas de rigor a rondar os 20.000 milhões de euros que inclui subida de impostos, aumento da idade da reforma e cortes no sector público. O conselho de ministros aprovou o plano neste domingo, entre os apelos da Alemanha e da França à disciplina orçamental na zona euro e a pressão dos mercados financeiros.

A urgência de acelerar o plano de ajustamento naquele montante levou Mario Monti – há apenas 17 dias à frente do executivo – a antecipar para a tarde deste domingo a reunião do Conselho de Ministros inicialmente prevista para segunda.

Ao apresentar as medidas no final do encontro, Monti repetiu ao lado dos seus ministros aquilo que já prometera quando assumiu a chefia do Governo: colocar Itália na rota “do controlo do défice e da dívida”. Amanhã, vai explicá-las no Parlamento de Roma e tem 60 dias para os deputados as aprovarem. A ministra do Trabalho não conteve as lágrimas quando falava da dureza dos sacrifícios.

Com o plano anticrise, Monti prevê que Itália atinja o equilíbrio orçamental em 2014, algo que segundo o Governo não conseguiria de outra forma, mesmo com os planos que o antecessor, o muito fragilizado Sílvio Belusconi, adoptou sob fogo dos mercados – dois pacotes (Julho e Setembro) que somam 60.000 milhões de euros em medidas de ajustamento.

O primeiro-ministro guardou para esta tarde uma medida simbólica a juntar às previsíveis opções do Governo. Monti, uma escolha do Presidente Giorgio Napolitano para chefiar um executivo de tecnocratas, renunciou ao salário de chefe de Governo e de ministro das Finanças e da Economia, cargos que acumula. “Num momento em que se pedem sacrifícios a todos os cidadão, é meu dever renunciar” a esse vencimento, justificou numa conferência de imprensa em Roma.

O plano vai vigorar durante três anos. Para além dos 20.000 milhões de medidas de rigor, estão previstos mais 10.000 milhões para medidas “a favor do crescimento do tecido industrial e do emprego”, esclareceu o Governo num comunicado.

Mas o grosso das medidas apresentadas diz respeito à reforma das pensões. A dureza das medidas levou mesmo a ministra do Trabalho, Elsa Fornero, que apresentava a reforma ao lado do primeiro-ministro, a começar a lacrimejar enquanto falava. Monti teve de retomar a palavra, vendo que a ministra estava com dificuldades em prosseguir com a explicação dos “sacrifícios” que ele próprio não escondeu estar a pedir aos italianos.

Já em 2012, as reformas passam a ser calculadas com base unicamente nas contribuições pagas ao sistema de Segurança Social italiano e deixam de ser ajustadas à inflação. A idade mínima da reforma no sector público passa dos actuais 60 anos para os 62. Haverá incentivos para quem prolongar a idade da reforma até aos 70 anos. E, em vez dos 40 anos de contribuições, os homens terão obrigatoriamente de descontar durante 42 anos para a Segurança Social para se poderem reformar e as mulheres durante 41.

Serão aumentados os impostos sobre a propriedade, artigos de luxo, carros desportivos e jactos privados. Uma medida de combate à evasão fiscal decidida por Berlusconi vai avançar, para que seja aplicado uma taxa de 1,5% sobre as divisas que entram em Itália. Será ainda aplicada outra taxa sobre instrumentos financeiros. E haverá cortes de serviços no sector público.

O plano que Monti quer pôr em marcha significa, assim, um ajustamento com duas componentes – uma de poupanças e outra de promoção do crescimento económico. Que caminho é esse em que Monti quer colocar o país? “Uma Itália orgulhosa que não se envergonhe mais do que aconteceu no passado”, resumiu, segundo cita a agência AFP. Isto, insistiu, para a Itália não ser olhada na Europa como uma fonte de problemas.

Notícia actualizada às 20h36 e às 23h25:

Actualizado o valor do pacote de ajustamento, 20.000 milhões e não os 24.000 milhões noticiados pela imprensa italiana, e acrescentadas as medidas do plano anticrise.

Sugerir correcção
Comentar