António Barreto: “O PS está em mau estado político, moral e mental”

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Barreto lamentou que não existem “elementos mais fidedignos” sobre o estado do país Foto: Miguel Manso

António Barreto, sociólogo e presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, considera que o PS está a ultrapassar uma fase muito difícil. Sobre a recente greve geral contra as medidas de austeridade, disse compreender os motivos, mas entende que num sector falido o protesto só agrava as coisas. E garantiu que vai continuar a pedir uma auditoria às contas dos últimos dez anos.

Em entrevista ao jornal i, questionado sobre a leitura que faz sobre a greve geral de 24 de Novembro, António Barreto responde: “Se os sindicatos, trabalhadores e partidos políticos consideram que há razões para convocar uma greve e há pessoas suficientes que justifiquem uma greve, posso não estar de acordo, mas quem sou para dizer que façam diferente”.

Depois, Barreto lamentou que não existem “elementos mais fidedignos” sobre o estado do país, referindo que “os relatos da greve estão muito partidarizados, muito comprometidos: quem é mais para a esquerda acha que foi uma grande greve, quem é mais para a direita acha que não”. E acrescentou, falando concretamente do sector dos transportes: “ Uma greve, num sector falido, não melhora as coisas, agrava-as. Percebo que muitas pessoas estejam a viver um clima de incerteza, mas não me parece que a greve ajude a resolver os problemas, que resultaram das opções económicas, estratégicas, financeiras e políticas dos últimos dez, quinze ou vinte anos, que, nalguns casos, poderá incluir má gestão”.

O sociólogo referiu que no sector dos transportes, que considera “prioritário”, muitos “projectos megalómanos” foram geridos “com muito pouca seriedade nos estudos de rentabilidade, de investimento público, de retorno económico, o que conduziu a muitos milhões de dívida”.

Precisamente sobre a questão da seriedade na vida política, Barreto pronunciou-se sobre o manifesto lançado pelo histórico socialista Mário Soares e assinado por várias personalidades, deixando críticas. "Eu não sei se foi ele [Mário Soares] que o escreveu, se só assinou, mas não tenho uma ideia muito boa sobre o que ali diz, sobretudo publicar o manifesto no dia da greve. E depois acrescenta:"Não achei que fosse muito interessante e não achei que fosse um bom contributo."

“A conclusão que retirei foi que aquele grupo de pessoas, e outras, certamente, estão muito preocupadas com o estado actual do PS, que está muito desorganizado, muito desordenado, que saiu de um longuíssimo período de Governo e saiu em más condições. E os socialistas sabem o que o PS fez no governo durante dez anos. Eles não o dizem, mas a maior parte dos socialistas sabe o amontoado de disparates e de erros cometidos e sabe da responsabilidade dos governos socialistas na situação em que nós vivemos”.

“O Partido Socialista está em mau estado político, em mau estado moral, em mau estado mental. Não está bem, não está nada bem. Pareceu-me que há um grupo de pessoas, umas mais velhas outras mais novas, que está muito preocupado com o futuro do Partido Socialista. E que está a lançar algumas bases para poder ter nos próximos quatro ou cinco anos um papel na renovação e, eventualmente, na substituição de alguns cargos de dirigentes actuais”, reiterou na mesma entrevista ao i, referindo ainda que a direcção do PS não lhe parece “uma direcção com muitas raízes culturais, com muita experiência, muita projecção nacional”.

Sobre as actuais medidas de austeridade e o Orçamento do Estado para o próximo ano, criticou o factor de não ser tornada pública mais informação que sirva para corrigir os erros do passado e afirmou que as pessoas estão “desesperadas” com a situação do país. No entanto, rejeitou a possibilidade de Portugal sair do Euro. “Se isso acontecer os portugueses perdem 40% ou 50% do seu nível de vida em dois anos, e teremos enormes dificuldades em pagar dívida, em relacionar-nos com o exterior”.

Questionado sobre possíveis caminhos foi peremptório: “Estamos falidos e a viver a crédito! Portugal já tem um enorme empréstimo à sua conta, vai certamente ter mais empréstimo ainda, e vai precisar nos próximos cinco a dez anos de recorrer a financiamentos externos. Não há dúvida sobre isto. Portanto, é necessário criar austeridade suficiente para reduzir a despesa pública, o endividamento de empresas e de pessoas, o que quer dizer que é preciso gastar muito menos, comprar muito menos ao estrangeiro e tentar o mais possível produzir um pouco mais e melhor”.

Notícia corrigida às 16h47:

No quinto parágrafo, foi retirada a afiormação de que António Barreto elogia o manifesto subscrito por Mário Soares e outros, acrescentando-se a citação de Barreto – que considera que o manifesto não foi um bom contributo.

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