DECO diz que os consumidores têm falta informação sobre separação de lixos

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A DECO considera que grande parte dos resíduos produzidos pelos portugueses ainda não tem o tratamento adequado Nuno Ferreira Santos

O consumidor português tem falta de informação sobre o tratamento que deve dar ao lixo doméstico e devia receber em casa conselhos práticos para orientá-lo na separação, local e condições de entrega no seu município, defende a DECO.

A propósito da Semana Europeia de Prevenção de Resíduos, que hoje se inicia, a especialista da Associação de Defesa do Consumidor (DECO) Sílvia Menezes disse à Lusa que as autarquias, em colaboração com as entidades gestoras de resíduos, deviam informar os munícipes de uma forma simples e detalhada acerca dos passos para o tratamento do lixo.

Uma opção seria “receber um folheto em casa a explicar o que deve separar e onde estão localizadas as infra-estruturas no seu município e os horários de recolha, em mensagens simples”, referiu.

Sílvia Menezes considera que o consumidor ainda não está “suficientemente sensibilizado” para a necessidade de alterar comportamentos, mas realça que, no entanto, “a adesão está a aumentar, fruto das campanhas, que continuam a ser praticamente só ao nível dos resíduos de embalagem e, mais recentemente, do equipamento eléctrico e electrónico”.

“Para tudo o resto há muito pouca informação”, acrescentou.

Para a DECO, é necessária uma colaboração muito estreita entre o município e as entidades gestoras para fazer chegar a informação “o mais completa possível a casa dos consumidores”.

A associação considera que as campanhas que passam essencialmente pela rádio e televisão “são genéricas” e sublinha que há diferenças entre municípios.

Entre as “dicas” úteis estão as informações sobre a forma de seleccionar e tratar o lixo (as embalagens devem ir espalmadas, os sacos do ecoponto amarelo não devem ir fechados), sobre o local onde colocar os resíduos e os horários de recolha.

Sílvia Menezes chamou ainda a atenção para as “pequenas quantidades de resíduos domésticos perigosos, como restos de tinta ou diluente”, produtos que não devem ser colocados no lixo, mas sim em “local adequado” para recolha específica deste tipo de resíduos.

“Não há entidade específica para estes casos em Portugal, mas noutros países sabemos que é possível fazer”, acrescentou.

“Neste momento, está a ir tudo para o ecoponto amarelo porque é embalagem e, mesmo que sejam poucas [as situações de produtos domésticos perigosos], a verdade é que o seu potencial de contaminação é elevado”, frisou.

Portugueses fazem pouco lixo mas muito ainda vai para aterro

A DECO revelou igualmente hoje que parte dos resíduos produzidos pelos portugueses ainda não tem o tratamento adequado, acabando no aterro sanitário, solução que deveria ser usada “só em último caso”.

No contexto europeu “produzimos relativamente pouco, mas aquilo que produzimos ainda está longe de ter o tratamento adequado”, Sílvia Menezes.

O número de infra-estruturas de recolha selectiva e valorização dos materiais pela reciclagem é cada vez maior, mas “ainda há muita quantidade de resíduos que estão a ir para aterro sanitário”, acrescentou Sílvia Menezes.

A DECO revela que, em 2009, se produziram em Portugal continental cerca de 5,2 milhões de toneladas de resíduos urbanos e, deste total, somente 13 por cento (%) foi alvo de recolha selectiva.

Cada europeu produziu, em média, 520 quilos de resíduos em 2004, mais 13 % do que em 1995, e as previsões apontam para 680 quilos em 2020.

A confirmar-se este valor, o lixo da União Europeia dará para cobrir o Luxemburgo com uma altura de 30 centímetros.

Há uma relação directa entre o desenvolvimento económico de um país e a produção de lixo, ou seja, quanto maior o nível de evolução, mais resíduos de produzem.

Por isso, “Portugal está bem por um lado, não tanto por ter dado grandes passos para reduzir a produção de resíduos, mas fruto da situação económica”, como explicou Sílvia Menezes.

Quanto ao tratamento adequado, a reciclagem surge em primeiro lugar, seguida da compostagem (para resíduos orgânicos), incineração com valorização energética e “aterro sanitário só em último caso”, especificou a especialista da DECO.

Sílvia Mezes referiu que “ainda não há uma adesão muito significativa das pessoas em termos de separação do lixo doméstico e reciclagem”, sobretudo em categorias de resíduos que não as embalagens, como, por exemplo, os restos orgânicos.

São muitos os ecopontos distribuídos pelo país, porém “os resíduos produzidos vão muito além dos resíduos de embalagem” recolhidos naqueles espaços e “as pessoas ainda não se habituaram” a separar e entregar no local certo óleos alimentares, electrodomésticos ou medicamentos fora de uso.

Na semana dedicada à prevenção de resíduos, as Brigadas Carbono, um projecto da DECO, visitam 18 escolas de Norte a Sul com o objectivo de alertar os jovens para a necessidade de adoptarem hábitos mais sustentáveis.

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