Sejima quer construir espaços onde as pessoas possam olhar-se e sorrir

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pedro cunha

A Aula Magna encheu-se para ouvir a famosa arquitecta japonesa, Kazuyo Segima. A convite da Trienal

Ao princípio, Kazuyo Sejima não percebe bem o sentido da pergunta. Queríamos saber se, na opinião dela, existem pontos comuns entre a arquitectura portuguesa e a japonesa. Estamos a falar de arquitectura tradicional portuguesa?, pergunta, pedindo desculpa por não conhecer bem. Mas quando explicamos que nos referíamos à contemporânea, a arquitecta japonesa, vencedora do Prémio Pritzker de arquitectura em 2010, abre um sorriso. Aí está em terreno conhecido.

"Siza", diz. "Os arquitectos japoneses têm um grande respeito pelo arquitecto português. Por um lado, a arquitectura dele parece simples, mas quando nos aproximamos e vemos a maneira como uma janela foi aberta, a forma como ele liga o exterior e o interior... Olhamos para fora e há uma ligação com o exterior que é fantástica."

A conversa de Sejima com os jornalistas aconteceu anteontem, no hotel onde se encontrava, minutos depois de ter aterrado em Lisboa, e pouco antes da conferência que deu para a sala cheia da Aula Magna, no âmbito da programação Intervalo da Trienal de Arquitectura de Lisboa, ao fim do dia.

A arquitecta fala inglês, mas prefere exprimir-se com a ajuda de uma intérprete (o que repete na conferência). Mas, de repente, com receio de não estar a ser clara em relação a Siza, salta para o inglês: "A arquitectura de Siza parece simples, mas é muito dinâmica na relação com o espaço. São espaços brancos e simples, mas sempre com diferentes proporções e que causam diferentes impressões. Talvez o que haja em comum entre a arquitectura portuguesa e a japonesa seja esse respeito pela relação entre o espaço interior e exterior."

Daí a pouco, na Aula Magna, Sejima apresenta vários trabalhos que revelam essa delicadeza na forma de se relacionar com o espaço: um deles é um projecto de uma aldeia na ilha japonesa de Inujima, um espaço com um ambiente quase mágico, que deverá transformar-se numa galeria viva. Sejima e Ryue Nishizawa (o seu sócio no atelier SANAA) começaram a recuperar velhas casas da ilha, onde vivem já poucas pessoas, e a construir algumas estruturas (como uma espécie de corredor arqueado em acrílico transparente), que têm a marca de todo o trabalho dos dois arquitectos: a leveza, e a transparência ("edifícios etéreos", escreveu uma vez o El País sobre a obra dos SANAA). Há uma cúpula de alumínio que protege do calor tórrido dos Verões de Inujima, e que é também um enorme instrumento musical, descreve Stefano Casciani, na revista Domus, falando de um mundo fora do tempo que está a nascer em Inujima.

Sejima não é muito faladora, admite-o, e não faz grandes discursos sobre o seu trabalho. Mas, antes de correr para a conferência, disse: "Devemos reflectir novamente sobre o que deve ser a arquitectura. Para mim tem que ser o espaço em que as pessoas se encontram, apertam as mãos, sorriem, olham umas para as outras. Quero criar um espaço onde isso seja possível."

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