Uma questão de bagagem

A maioria das mulheres usa malas horrendas, pouco resistentes, absolutamente inadequadas ao seu porte e, ainda para mais, a condizer com os sapatos

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No mundo da moda, a mala é um "fashion statement". Qualquer blogue famoso, à excepção dos portugueses, possui uma pessoa fotografada com aquela mala ("it bag", na gíria do mundo supracitado).

Quando fiz 21 anos, a minha mãe olhou com alguma tristeza para o bolso superior do meu Lee "vintage" e viu que, debaixo de um "patch" de Bathory, estavam os meus pertences: chaves, multibanco e batom. O dinheiro e o iPod estavam guardados nos bolsos das calças. Telemóvel na mão. Perante essa visão, só disse: "Joana, tens aqui o meu cartão. Desaparece, por favor, e vai comprar uma mala decente." 

Escolhi uma Miu Miu. Quando a recebi, achei que se adequava a mim: não muito grande, preta, mole, com alça comprida, um bolso interior. Depressa entendi o alcance da afirmação social que uma mala, só pelo facto de ter uma marca gravada, faz junto do público. Comecei a fazer experiências muito simples com o intuito de verificar se me tratavam melhor ou pior se levasse, ou não, a Miu Miu.

A conclusão foi rápida. Eventualmente, voltei a enfiar tudo nos bolsos. Reparei, no entanto, que a maioria das mulheres usa malas horrendas, pouco resistentes, absolutamente inadequadas ao seu porte e, ainda para mais, a condizer com os sapatos. 

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Quando recebi a Miu Miu, achei que se adequava a mim DR

A obessão pela Mary Poppins

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Clutch art déco muito rara da Cartier DR

Concluo que as mulheres adoram a Mary Poppins. Só assim consigo compreender a quantidade de coisas que conseguem guardar numa mala: lenços de papel, uma agenda, canetas, pensos, tampões, bolsa de maquilhagem, toalhitas refrescantes, garrafa de água, uma maçã, comprimidos drenantes, o Ibuprofeno 600mg, a caixa dos óculos e umas bolachinhas... A sério, em 99% das ocasiões nada disto faz falta.

Só uma ínfima parte do que é transportado numa mala todos os dias é habitualmente utilizada. Para guardar esses itens, basta uma "clutch". Ocupa vagamente a mão e dá um certo "ar". Sempre que penso em "working girls" poderosas, penso em mulheres sem mala. 

Livrem-se das malas e dos jovens machos que desejam guardar todas as suas coisas nas vossas malas. Sejam "Yves Saint Laurentianas!" E, à hora de sair de casa com um plano traçado, lembrem-se que o destino pode decidir intervir e trocar-vos as voltas.

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