“Ondulação perfeita” na Nazaré pode ter dado recorde mundial a McNamara

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Estima-se que esta onda atingiu os 27,5 metros Nazaré Qualifica-Polvo Concepts-Wilson Ribeiro/Jorge Leal

“Acho que aquela onda veio ter connosco. Fomos abençoados!” Garrett McNamara ainda não está absolutamente certo de ter inscrito o seu nome, e o de Portugal, na história do surf mundial. Mas a onda que surfou no passado dia 1 de Novembro, na Praia do Norte, Nazaré, pode bem ter sido a maior jamais enfrentada por um surfista em todo o mundo. As estimativas iniciais apontam para qualquer coisa à volta dos 90 pés (cerca de 27,5 metros), o equivalente a um prédio de nove andares.

A divulgação das imagens recolhidas durante aquele dia animou os meios do surf mundial (veja o vídeo). É que McNamara, que está no segundo de três anos do seu projecto de exploração das ondas da Praia do Norte, terá pulverizado a anterior marca registada no Livro Guinness dos Recordes, uma onda de 77 pés (23,5 metros) apanhada no Banco de Cortez, ao largo da Califórnia, pelo norte-americano Mike Parsons, em 2001. Embora sem registo oficial, há quem leve em conta o monstro de 85 pés (25,9 metros), “assinado” no Hawai por Ken Bradshaw, em 1998.

O “Graal” dos surfistas de ondas grandes é a mítica vaga de 100 pés, um objectivo perseguido há anos mas nunca alcançado. McNamara terá sido o que mais se aproximou naquela descida vertiginosa com a costa da Nazaré em pano de fundo. “Acho que surfei entre os 50 e os 80 km/h, não posso ter a certeza, mas andou entre esses valores”, recorda o havaiano. Rebocado pelo inglês Andrew Cotton (em ondas deste tamanho, só a ajuda de uma moto de água permite ganhar a velocidade suficiente para não ser esmagado pela montanha de água), McNamara apanhou a vaga gigante com a naturalidade de quem se preparou toda uma vida para este momento.

A maioria das pessoas iria parecer assustada

O irlandês Al Mennie, que acompanhava as operações noutra moto de água para garantir a segurança, assistiu a tudo numa posição privilegiada. Eis o seu relato, divulgado pelos serviços de imprensa da campanha ZON North Canyon Show: “Foi incrível. A maioria das pessoas iria parecer assustada, mas o Garrett estava a controlar quando descia a parte crítica da onda. Foi uma surfada inspiradora por um surfista inspirador. Depois, o mar acalmou. Ficámos lá a só a absorver o que tinha acontecido e tudo o que estava à volta. Que dia!”

Na verdade, ninguém antecipava um colosso destas dimensões. Nem sequer McNamara. “Não esperava uma onda tão grande. Na véspera sim, mas ela não apareceu. Desta vez, foi a ondulação perfeita vinda do canhão da Nazaré. Aconteceu tudo no momento certo, o ‘swell’ de três direcções diferentes confluiu e a água subiu a uma altura incrível!”

Contactado por telefone à hora do seu (sacramental) almoço de peixe fresco na Nazaré, Garrett McNamara ainda não pode ter a certeza do seu recorde mundial. E nem sequer sente a tentação de assumir o mérito por ter apanhado a onda certa.

Antes dele, Al Mennie e Andrew Cotton tinham surfado ondas enormes, de cerca de 60 pés (mais de 18 metros), mas, quando McNamara subiu para a prancha, o mar da Nazaré ofereceu-lhe uma parede de água de dimensões ciclópicas. “Não há maneira de adivinhar”, garante o havaiano. “Normalmente podemos calcular, com base no nosso conhecimento e numa observação cuidada. Mas aqui é tudo muito mais misterioso. A Nicole [assistente do surfista] estava no penhasco a dar-nos indicações, mas acho que foi mesmo sorte...”

Nazaré acolhe prova de ondas grandes em 2012

A parceria entre Garrett McNamara e a Câmara da Nazaré, com o apoio da ZON, iniciou-se em 2010 e prolonga-se até 2012, ano em que se realizará uma competição mundial de ondas grandes. O objectivo é divulgar as potencialidades deste ponto da costa portuguesa, que, graças à acção do canhão da Nazaré (um desfiladeiro submarino com cerca de 170km que chega aos 5000 metros de profundidade), vê chegar vagas gigantes à Praia do Norte. Uma onda apanhada por McNamara anteriormente, mas já este ano, é candidata ao prémio anual de maior onda surfada em todo o mundo.

Quanto ao colosso de 1 de Novembro, vai agora ser avaliado pelos peritos da Billabong para determinar a sua altura exacta. Pegando nas imagens, o processo é simples: assume-se a altura do surfista como referência e extrapola-se para conseguir a distância entre o topo e a parte mais baixa da face da onda. Seja qual for a medição, em metros ou pés, uma coisa fica, desde já, bem evidente: a Nazaré ofereceu ao mundo do surf uma das maiores ondas de sempre. Ainda não foi a de 100 pés. Mas Garrett McNamara continua à procura: “Vamos esperar, para ver se ela aparece.”

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