Barroso adverte para consequências “imprevisíveis” do referendo na Grécia

Durão Barroso
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Durão Barroso Foto: Jean-Marc Loos/Reuters
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Exposição dos bancos alemães à dívida grega ronda os 17 mil milhões de euros
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Exposição dos bancos alemães à dívida grega ronda os 17 mil milhões de euros Tobias Schwarz/Reuters

Uma rejeição pelos gregos do plano de resgate europeu para o país, no referendo anunciado, teria consequências “imprevisíveis”, preveniu hoje o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, quando chegou a Cannes, para uma reunião de crise.

“A União Europeia alcançou um acordo sobre vastas medidas de apoio à Grécia. Mas para que essas medidas entre em vigor é crucial que haja estabilidade no país”, diz Barroso.

“Sem o acordo da Grécia ao programa da EU e do FMI, as condições para os gregos seriam muito mais dolorosas, em particular para os mais vulneráveis”, acrescentou Barroso.

Bancos alemães suspendem acordo para o perdão da dívida grega

Os bancos alemães incluídos no acordo para um perdão de 50% da dívida grega detida pelos privados suspenderam o plano negociado com a União Europeia para a reestruturação da dívida de Atenas. Tudo fica dependente do resultado do referendo que o Governo grego quer realizar sobre o plano de assistência externa, anunciou hoje a Confederação dos Bancos Alemães.

O presidente da confederação, Michael Kemmer, fez saber que o acordo ficará suspenso até se conhecer o desfecho da votação, embora prossigam os preparativos necessários para a respectiva implementação.

“A aplicação integral do pacote para atenuar a crise da zona euro antes do referendo na Grécia é irrealista, não devemos criar factos consumados, antes de o referendo estar concluído”, justificou, ressalvando que espera um amplo apoio dos bancos credores ao corte da dívida pública grega.

Após intensas negociações entre a União Europeia, os bancos acordaram na semana passada – através do Instituto da Finança Internacional (IIF) – abater 100 mil milhões de euros dos empréstimos concedidos a Atenas (em troca de garantias de 30 mil milhões de euros através do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF). Mas o anúncio dos bancos alemães, cuja exposição à dívida grega ronda os 17 mil milhões de euros, pode agora pôr em causa um acordo voluntário até que os privados conheçam o resultado do referendo que o Governo espera conduzir até Dezembro.

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, disse em diferentes entrevistas à imprensa alemã que o governo de Berlim continua a apoiar os acordos firmados entre Atenas, Bruxelas e o Fundo Monetário Internacional, mas exigiu simultaneamente que a Grécia “esclareça rapidamente” o caminho que quer trilhar para sair da crise.

Fundo de resgate adia emissão de dívida

O FEEF vai adiar uma emissão de obrigações a dez anos no valor de três mil milhões de euros. O adiamento deve-se às “actuais condições de mercado”, segundo afirmou o porta-voz do fundo, Christof Roche, citado pela Bloomberg.

Com base em informações de uma fonte não identificada, a Bloomberg acrescenta que, esta manhã, no âmbito de uma reunião com investidores, um responsável do FEEF explicou que este organismo, liderado pelo alemão Klaus Regling, irá esperar pelos resultados do encontro do G20, que decorre em Cannes amanhã e sexta-feira, antes de avançar com a emissão de obrigações.

Papandreou é esta tarde recebido pelos líderes das duas maiores economias europeias, Angela Merkel (Alemanha) e Nicolas Sarkozy (França). Isto numa altura em que a imprensa francesa e espanhola noticia que a União Europeia recusa renegociar os requisitos para o segundo resgate a Atenas e poderá bloquear a sexta tranche do empréstimo à Grécia (prevista para entrar nos cofres do Estado até meados deste mês), se Atenas não aplicar as medidas de ajustamento acordadas com Bruxelas.

Entretanto, um responsável da Moody’s, uma das três grandes agências de notação financeira (rating) do mundo (todas norte-americanas), veio alertar para o risco de adiamento dos pagamentos previstos no plano de ajuda à Grécia, sem no entanto fazer menção específica à próxima parcela de oito mil milhões, cuja entrega foi decidida no mês passado.

“Os projectos da Grécia poderiam incitar a UE, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu a atrasar os futuros pagamentos do plano de ajuda grego, provocando uma crise de liquidez ao Governo”, disse Zach Witton, da Moody’s Analytics, citado pela agência AFP.

Ameaças de dissidência no Pasok

Em Atenas, o socialista Papandreou enfrenta novas divisões no interior Pasok, o partido que suporta no Parlamento – mas por uma curta margem – a maioria de Governo.

Embora o primeiro-ministro tenha conseguido, esta madrugada, luz verde do Governo para referendar o plano contra a crise (que, a realizar-se, não deverá ser votado antes de Dezembro), Papandreou tem pela frente a tarefa de manter do seu lado os deputados socialistas em número suficiente para garantir a aprovação da realização do referendo. O executivo enfrenta já na sexta-feira a votação de uma moção de confiança, que, caso os socialistas não consigam 151 votos favoráveis, pode precipitar a queda do Governo.

Com a saída da deputada Milena Apostolaki da bancada parlamentar do Pasok (passando a deputada independente), o partido do Governo viu a maioria encolher para 152 assentos (num total de 300 parlamentares). E não é certo que todos fiquem do lado do executivo na sexta-feira, nem que todos votarão a favor da realização do referendo. Eva Kaili, outra deputada socialista, deixou implícito que não votará ao lado da posição oficial do Pasok, embora diga que aguardará pelos encontros do G20 em Cannes para tomar uma decisão.

Para o líder do principal partido da oposição (Nova Democracia), Antonis Samaras, o primeiro-ministro está apenas interessado em assegurar os seus próprios interesses, contra os quais, considerou, se pode virar o próprio referendo. Samaras afastou ainda ideia de ser criado um governo de salvação nacional, como pedira a socialista Eva Kaili.

Notícia actualizada às 16h25
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