Mediocridade do FC Porto dá primeira derrota lusa contra cipriotas

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Aílton fez de grande penalidade o 1-0 Reuters

Na memória da generalidade dos adeptos portugueses, o APOEL era até esta terça-feira o adversário que o Sporting tinha batido em 1963 (faz 48 anos no próximo dia 11) por 16-1, goleada que continua a constituir recorde nas provas europeias. A partir de agora, os cipriotas passam também a ser conhecidos como a primeira equipa sénior (incluindo selecções) cipriota a ser capaz de bater (2-1) um adversário português. Habituado a fazer história, o FC Porto ficou, desta vez, remetido ao papel de protagonista menor. Mas, em Nicósia, só pôde queixar-se de si próprio.

O último vencedor da Liga Europa não pode sequer dizer que foi apanhado de surpresa. O campeão do Chipre já tinha batido o Zénit no seu estádio e ido empatar a Donetsk. Já se sabia que tinha três ou quatro jogadores interessantes, mas apenas isso. Não houve sequer surpresas tácticas: o sérvio Jovanovic repetiu o 4x2x3x1 que é a matriz de um esquema variável e que se vai transformando, deixando apenas Ailton na frente quando importava segurar a vantagem conseguida.

A verdade é que, nem por isso, o FC Porto foi capaz de encontrar antídoto para lidar com o futebol desequilibrante do macedónio Trickovski e com a mobilidade do brasileiro Ailton, um avançado que tem o condão de marcar golos importantes. Pior do que isso, a equipa portista teve uma prestação medíocre no primeiro tempo e, a perder desde o minuto 40, apenas melhorou ligeiramente depois. O relvado estava em péssimo estado (e os cipriotas não aceitaram regá-lo antes do início e ao intervalo, como era desejo do FC Porto), mas nem isso serve de desculpa para a falta de dinâmica e de velocidade. O FC Porto nunca conseguiu criar movimentos de rotura e pagou o número elevado de exibições medíocres, a começar por Hulk.

As implicações da derrota são evidentes: o FC Porto deixou de depender de si próprio na corrida ao primeiro lugar e mesmo o apuramento para a fase seguinte pode estar complicado, até porque o próximo jogo é na Ucrânia. Um clube que tem um orçamento que já ultrapassa os 100 milhões de euros (contra os cerca de 20 milhões investidos pelo APOEL) não pode estar sujeito a esta circunstância. Agora sim, pode falar-se em crise e Vítor Pereira passou a ter o lugar em perigo.

O jogo foi quase sempre pouco interessante, mas as raras jogadas com alguma coerência e sentido estético que se viram na primeira parte foram obra do APOEL, que apresentou três portugueses de início, tal como o FC Porto. Depois de Ailton ter rematado ao poste, num lance em que Mangala se deixou antecipar, o brasileiro acabou por marcar de penálti, num lance em que o jovem central francês falhou o corte, mas em que ficou a ideia de não ter derrubado o adversário. Penálti ou não, a verdade é que, logo aos 15’, já tinha havido outro lance duvidoso na área portista em que Rolando pode ter derrubado um adversário.

O FC Porto, que só tinha construído meia dúzia de arabescos inconsequentes, continuou a errar passes no segundo tempo e apenas Fernando, Álvaro Pereira e, a espaços, Varela escapavam ao desnorte geral. Sem tacticismos estalinistas, o APOEL baixou naturalmente as linhas e organizava-se em 4x5x1. Deixava o FC Porto criar lá atrás, mas depois sufocava rapidamente qualquer ameaça mais próxima da sua baliza.

Vítor Pereira percebeu que a sua equipa não tinha poder de intimidação e lançou James e Guarín. Saíram Varela e Fernando porque a ideia era investir num duplo pivot que libertasse Belluschi para o apoio ao tridente ofensivo. Mas, se era assim, melhor seria que tivesse logo lançado Defour em vez de Guarín, porque o belga funciona melhor ao lado de Moutinho. Houve melhorias ligeiras e o apoio dos laterais ficou facilitado com o novo desenho. Mas, após um contra-ataque perigoso, Hulk não conseguiu melhor do que disparar contra um adversário.

O treinador do APOEL já tinha trocado Ailton por um trinco (Jahic) e dado maior liberdade ofensiva a Hélio Pinto (excelente exibição) quando James Rodríguez entrou a serpentear na área, acabando por cair. O árbitro marcou penálti, mas foi enganado pelo mergulho do jovem colombiano. O FC Porto preparava-se para conseguir um resultado melhor do que a exibição, situação que se vinha repetindo nos últimos jogos. Mas nem isso soube conservar e acabou batido num contra-ataque concluído de forma certeira por Manduca, um brasileiro de 31 anos bem conhecido do futebol português e que já tinha marcado ao Zénit.

O jogo acabou logo a seguir, com Hulk a ser mais lesto a constestar a arbitragem do que tinha sido a ultrapassar os adversários....

POSITIVOTrickovski

O jogador da Macedónia surgiu no meio (desta vez, Manduca alinhou na esquerda), mas fartou-se de criar desequilíbrios à custa da sua mobilidade e qualidade. Tem 24 anos e só custou 300 mil euros. Foi o melhor de uma equipa em que vários outros jogadores mostraram competência, a começar por Ailton e Hélio Pinto.


NEGATIVOFC Porto

No campeão nacional salvaram-se apenas Fernando, Álvaro Pereira e, aqui e ali, Varela. Hulk teimou em entrar por onde não devia. Mangala fartou-se de cometer disparates no primeiro tempo. Mas a crise de confiança é generalizada entre os jogadores portistas. A relva estava horrível, mas a bola parecia queimar nos pés de muitos. Vítor Pereira tomou opções justificáveis. Mas escolheu mal os protagonistas para formar o duplo pivot no meio-campo. E, na Champions, não se pode ir a jogo sem avançados no banco...


Ficha de jogo

APOEL, 2


FC Porto, 1


Jogo no Estádio GSP, em Nicósia.Assistência Cerca de 20.000 espectadores.

APOEL

Urko Pardo, Savvas Poursaitidis, Paulo Jorge, Marcelo Passos, Solomou, Hélio Pinto, Nuno Morais, Charalambidis, Manduca (Alexandrou, 90’+1’), Ivan Trickovski (Solari, 85’) e Ailton (Jahic, 77’). Treinador Ivan Jovanovic.

FC Porto

Helton, Fucile, Rolando, Mangala, Álvaro Pereira, Fernando (Guarín, 60’), João Moutinho, Belluschi (Defour, 76’), Hulk, Varela (James Rodríguez, 60’) e Kléber. Treinador Vítor Pereira.

Árbitro

Gianluca Rocchi, de Itália.

Amarelos

Varela (3’), Mangala (41’), Savvas Moursaitidis (62’), Manduca (76’) e Charalambidis (90’+2’).

Golos

1-0, por Ailton (g.p.), aos 42’; 1-1, por Hulk (g.p.), 89’; 2-1, por Manduca, aos 90’.

Jornada 4Grupo G

Zenit-Shakhtar Donetsk1-0APOEL-FC PORTO2-1

1.º APOEL 4 jogos/8 pontos2.º Zenit 4/7
3.º FC PORTO 4/4
4.º Shaktar Donetsk 4/2

Próxima jornada (23 Novembro)Shakhtar Donetsk-FC Porto e Zenit-APOEL

Notícia actualizada às 23h19
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