Susana vai imitar a formiga e trabalhar ainda mais até ser mãe

Adiantar o máximo de trabalho possível parece ser a única forma de sobreviver a uma licença de maternidade quando se trabalha a recibos verdes, diz a "freelancer" grávida de 18 semanas

Foto
O montante pago durante a licença de maternidade é calculado em função da contribuição mensal João Guilherme/arquivo

É uma "verdadeira recibos-verdes", nunca trabalhou sem ser por conta própria. Susana Moreira Marques é "freelancer" desde 1999: começou por trabalhar em cinema e hoje em dia vive em Lisboa, a partir de onde colabora com dois jornais diários portugueses (o PÚBLICO é um deles). Com 35 anos, depois de ter vivido em Londres, no Reino Unido, está à espera do primeiro filho, com 18 semanas de gravidez.

Apesar de não poder dizer que o facto de ser "freelancer" foi preponderante na decisão de ir adiando ser mãe, Susana admite que este "é um factor que faz pensar" e que, "tivesse tido uma situação estável mais cedo, talvez tivesse tomado a decisão há mais tempo".

É que pensar em quatro a seis meses sem receber mais do que o contributo mensal para a Segurança Social não é uma perspectiva animadora. Susana Moreira Marques, que sempre teve em dia a sua situação contributiva, considera "extraordinário" que a Segurança Social "não possa dar mais".

"Quando parar de trabalhar, a única coisa a que vou ter direito é o equivalente à minha contribuição mensal, ou seja, cerca de 189 euros", diz. "Se contribuis durante muitos anos é para que, no momento em que precises, possas ter um subsídio equivalente àquilo que contribuíste no total”. Não faz sentido, reflecte, que o valor da licença de maternidade seja calculado em função da contribuição mensal.

Pré-mamã, a formiga dos tempos modernos

Ao longo dos meses de gravidez que se avizinham, Susana Moreira Marques não vai descansar. A imagem da formiga que recolhe o máximo de alimentos, no Verão, para ter um Inverno mais folgado, assenta na perfeição neste caso – e no de tantas outras trabalhadoras independentes em vias de serem mães.

A jornalista está, já, a "antecipar algum trabalho que será publicado na altura em que estiver de licença”, até porque tem uma colaboração fixa com um jornal. Enquanto estiver sem trabalhar para cuidar do bebé não vai poder passar recibos, mas assim que o período de licença terminar pode emiti-los a todos. O problema reside, precisamente, nos meses em que o ordenado será inexistente.

A Susana assusta-a os meses em que vai estar parada, porque não vai poder fazer propostas de trabalhos nem "pensar em ideias novas". "E um 'freelancer' vive de estar sempre a gerar trabalho, sempre a abordar pessoas", continua. A angústia de não saber como vai estar a sua situação uma vez terminado o período de licença de maternidade é constante: "Já está a ser mais difícil trabalhar, independentemente de se estar grávida ou não."

"É um bocado preocupante porque, obviamente, quando uma pessoa tem (ou vai ter) um filho começa a ver as coisas de outra maneira", diz.

Notícia corrigida às 11:15

Sugerir correcção
Comentar