Abutre-preto recomeçou a reproduzir-se em Portugal 40 anos depois

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A cria já sobrevoa o Tejo Internacional Quercus

“Idanha”, com sete meses, já sobrevoa o Tejo Internacional. Este foi o segundo ano consecutivo em que casais de abutre-preto, espécie classificada como "criticamente em perigo", conseguiram reproduzir-se em Portugal, depois de uma ausência de 40 anos.

Em Abril deste ano nasceu “Idanha”, cria de um dos três casais reprodutores no Parque Natural do Tejo Internacional. É o terceiro abutre-preto (Aegypius monachus) a nascer em Portugal, segundo dados confirmados, desde 1973, depois de no ano passado terem nascido “Tejo” e “Aravil”.

“São três os casais de abutre-preto que estão a iniciar esta pequena colónia”, junto à fronteira, explicou hoje ao PÚBLICO Samuel Infante, do núcleo da Quercus de Castelo Branco. Do lado de lá existirão cerca de 40 casais, uma pequena percentagem dos mais de 1800 que se reproduzem em todo o território espanhol.

Em Portugal, a destruição do habitat, os venenos e a perseguição directa fizeram com que esta espécie deixasse de nidificar em terras lusas, acrescentou Infante. “Estas aves precisam de grandes áreas semi-naturais. Dantes chegaram a criar no Alentejo. Mas com as campanhas do trigo [nos anos 30] e da reflorestação com eucalipto [nos anos 80], desapareceram muitas das árvores centenárias de grande porte onde construíam os ninhos”, que pesam centenas de quilos.

Tejo Internacional terá em 2012 novas plataformas de nidificação

Em 2010, a Quercus construiu seis plataformas de nidificação para o abutre-preto. Este ano, duas foram ocupadas mas um dos ninhos caiu no início da época de reprodução e perdeu-se a postura. Na outra plataforma tudo correu bem e, em Abril, nasceu “Idanha” que já sobrevoa o Tejo Internacional.


Para saber mais sobre a ecologia da espécie e sobre a colónia que está a instalar-se em Portugal, a Quercus segue, por satélite, duas crias e um sub-adulto. “Conseguimos desta forma obter informação sobre os movimentos das aves, a área de dispersão, os factores de ameaça, as zonas onde se alimentam e onde se concentram”, explicou Samuel Infante. “Tejo” e “Aravil” costumam visitar as colónias da sua espécie, espalhadas pela Península Ibérica.

O responsável acredita que, com o tempo, o Tejo Internacional pode vir a ter uma colónia estável, talvez com 40 casais, à semelhança do que acontece em Espanha. “Mas este é um processo muito longo e que depende de muitos factores, especialmente da disponibilidade de alimento”. Para o ano, a Quercus quer instalar mais quatro ou cinco plataformas para ajudar estes animais a nidificar, adiantou.

Estas aves, necrófagas – que se alimentam apenas de animais mortos -, têm um papel importante porque ajudam a remover as carcaças do gado que acaba por morrer nos campos.

Este mês, a Quercus apresentou ao Governo uma proposta para, nas regiões de montanha, deixar de recolher os animais mortos – através de um serviço chamado SIRCA (Sistema de Recolha de Animais Mortos nas Explorações) que diz custar 23 milhões de euros. Em vez disso, aves necrófagas como o abutre-preto passariam a ter alimento. “Ainda estamos à espera de uma resposta do Ministério mas vamos insistir. Este sistema beneficiaria a espécie e ajudaria a poupar dinheiro na recolha dos cerca de mil animais que são retirados diariamente dos campos”, salientou Samuel Infante.

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