Delors: clima europeu "lembra os anos 30"

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ASM/Arquivo PÚBLICO

O antigo Presidente da Comissão Europeia (CE), Jacques Delors, disse em entrevista ao jornal Le Monde que o euro se mantém "à beira do abismo".

Jacques Delors lamenta ter tido razão quando disse no passado Verão que o euro corria sérios riscos. “Os europeus reagiram demasiado tarde, de forma fraca e em clima de histeria”, disse na entrevista publicada ontem.

O antigo presidente da CE afirmou ainda que a crise da moeda única deve-se, fundamentalmente, à crise financeira global mas também a “defeitos estruturais existentes no sistema do euro”. Jacques Delors revela que em 1997, depois de ter deixado a Comissão Europeia, sugeriu a criação de um centro económico para a coordenação das políticas económicas. “Se esse equilíbrio tivesse sido alcançado, o Conselho do euro teria conseguido reagir em tempo útil à situação da Grécia”, afirma.

Jacques Delors falou ainda do perigo que corre o “casamento europeu” entre os vários países da União Europeia. “O clima não é bom e lembra os anos 1930. Nacionalismo exacerbado, populismo agressivo, o medo da globalização, tudo isso põe em causa o contrato de casamento europeu”, disse quando questionado pelo Le Monde em relação à reticência da Finlândia e Eslováquia para ajudar a Grécia. No entanto, considera óbvia a relutância dos países em ajudar, dadas as “ameaças ao euro, como os riscos de recessão”.

Quanto à dupla Merkel-Sarkozy, o antigo presidente da CE diz que se a aposta franco-alemã for bem sucedida “terá tido um papel muito importante na tranquilização dos mercados”. No entanto, afirma que muitos países estão a “começar a protestar contra a ‘Merkozy’ ou a política do facto consumado” e defende que “é tempo de restaurar o papel central do método comunitário para preparar as decisões e envolver todos os países membros”.

Em relação à cimeira do G-20, Jacques Delors espera que se aprovem medidas como “o reforço dos recursos do FMI, a regulação do sistema financeiro e, em particular, as exigências de garantia para os bancos ‘grandes de mais para cair’”.

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