Portugueses contribuíram para a descoberta do Nobel da Física

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Patrícia Castro e Nelson Nunes observaram supernovas para ajudar a descobrir o destino do Universo Reuters

Dois jovens cientistas portugueses contribuíram num dos artigos científicos que valeram ao astrofísico norte-americano Saul Perlmutter o Prémio Nobel da Física 2011.

Os investigadores Patrícia Castro e Nelson Nunes são co-autores do artigo “Measurements of Omega and Lambda from 42 High-Redshift Supernovae”, publicado em 1999 na revista científica “The Astrophysical Journal”.

Patrícia Castro, de 36 anos, foi seleccionada em 1998 para fazer um estágio de dez meses no Lawrence Berkeley National Laboratory com a equipa de Perlmutter. Esta ex-investigadora do Instituto Superior Técnico guarda do astrofísico norte-americano a imagem de uma pessoa “rigorosa”, “persistente”, “afável” mas também “muito controladora”.

“Ele queria controlar cada passo no laboratório. Isso explica parte do seu sucesso porque é preciso muita resistência para fazer valer uma ideia que ia contra o status quo”, explica Patrícia Castro ao PÚBLICO numa conversa telefónica. Era difícil imaginar então um Universo em aceleração - mas era para essa conclusão que apontavam tantos os resultados da equipa de Perlmutter como a de Brian Schmidt, também ele distinguido hoje em Estocolmo.

Patrícia Castro diz ter “memórias excelentes” das “pessoas fantásticas” que conheceu no projecto liderado por Perlmutter, o Supernova Cosmology Project. Ali participou na análise de dados das supernovas, que são estrelas que morrem em grandes explosões e que podem ser detectadas a milhares de milhões de anos-luz. Também ali Patrícia viu nascer o trabalho distinguido nesta terça-feira pelo Comité Nobel.

"Nós tínhamos a noção de que estávamos a trabalhar numa área revolucionária, era claro que os resultados indicavam que havia uma componente nova no Universo – e isto tudo era muito entusiasmante", diz Patrícia.
Após a passagem por Berkeley, Patricia seguiu para a Universidade de Oxford, na Inglaterra, onde concluiu o doutoramento em Astrofísica. Foi ainda bolseira de pós-doutoramento na Universidade de Edimburgo. De regresso a Portugal, encontrou um país com "falta de oportunidades" e que atira os bolseiros para "uma situação precária". Este cenário, aliado ao facto de entretanto ter dado à luz uma menina, levou-a a repensar a carreira.

Patrícia Castro já não é cientista desde 2007. Actualmente trabalha como consultora na empresa Cap Gemini, em Lisboa, onde encontrou um "emprego estável" e a possibilidade de dar um uso diferente ao treino científico. "Tenho pena de ter abandonado a ciência, mas eu gosto do que eu faço, sinto que há uma aprendizagem que não se perde – o pensamento analítico continua a fazer parte do meu trabalho", diz a ex-investigadora, que só lamenta o facto de o tecido empresarial português não estar preparado para receber os doutorados.

Nelson Nunes também é co-autor do artigo “Measurements of Omega and Lambda from 42 High-Redshift Supernovae”, publicado em 1999 na revista científica The Astrophysical Journal.

Nelson Nunes ainda é investigador no grupo de Cosmologia do Instituto de Física Teórica da Universidade de Heildelberg, na Alemanha – mas por pouco tempo. Está de regresso a Portugal – e está contente por isso, apesar de ser alguém que gosta de “saltar” de país em país. Na próxima segunda-feira, dia 10 de Outubro, assume funções como investigador no Centro de Astrofísica da Faculdade de Ciências de Lisboa.

A notícia da atribuição do Nobel da Física deste ano à descoberta da aceleração da expansão do universo apanhou Nelson de surpresa. O investigador estava numa conferencia sobre matéria escura em Heildelberg e, durante os trabalhos, a novidade foi dada aos conferencistas. “Todos começaram a bater palmas, foi muito entusiasmante”, conta Nelson numa conversa telefónica com o PÚBLICO. Nelson Nunes “sabia que o prémio viria” mais cedo ou mais tarde, mas “estava à espera que levasse mais uns dois ou três anos”.

O galardão hoje anunciado em Estocolmo pelo comité Nobel distingue não só Perlmutter mas também aos cientistas Brian Schmidt, da Universidade Nacional Australiana, e Adam Riess, da Universide Johns Hopkins (EUA), "pela descoberta da aceleração da expansão do Universo através da observação de supernovas distantes".
A descoberta da expansão acelerada do Universo já tinha valido às equipas de Saul Perlmutter e Brian Schmidt o Prémio Gruber de Cosmologia 2007 no valor de 500 mil dólares. Entre os 52 cientistas então distinguidos estavam Patrícia Castro e Nelson Nunes, que pertenciam então ao grupo de Astrofísica Observacional do Instituto Superior Técnico.

Notícia actualizada às 22h37
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