Troca de medicamentos no Garcia de Orta começou a ser julgada em Almada

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As rotinas do hospital foram descritas ao tribunal pelas arguidas João Cortesão (arquivo)

Tanto a médica otorrinolaringologista como a técnica de audiologia do hospital Garcia de Orta que hoje se sentaram no banco dos réus no tribunal de Almada afirmaram que o dia 17 de Junho de 2010 – a data dos factos – foi um dia “normal” em que cumpriram a rotina naquele tipo específico de exames e que não percebem como foi possível a troca de medicamentos. Em consequência, duas crianças de três anos e de 18 meses às quais foi administrado o medicamento errado para as preparar para um exame, sofreram queimaduras no intestino e, no caso da mais velha, também na traqueia, esófago e estômago. Assistidas na urgência do hospital foram tratadas e acabaram por ter alta.

O Ministério Público acusa as arguidas dos crimes de ofensa à integridade física por negligência e de ofensa à integridade física grave.

Ambas descreveram hoje ao tribunal as rotinas do serviço e os procedimentos. A médica que chegou a emocionar-se durante o seu depoimento, disse que o tabuleiro com os medicamentos já estava pronto quando ela começou a preparação para o exame e que nunca lhe passou pela cabeça que não estivesse a administrar o sedativo habitual naqueles casos. “O frasco em causa tinha as mesmas características do frasco usado sempre”, disse.

A técnica contou que retirou o medicamento do frigorífico onde sempre está e, apesar de ter um nome diferente no rótulo, ela “leu” o nome certo, dando seguimento a uma conduta “mecânica”: “Fui ao frigorífico, na prateleira de cima estava um frasco, olhei para o frasco e na minha cabeça li hidrato de cloral. Não sei explicar. Era uma rotina, passou-se tudo como habitualmente”.

Há nove anos que a médica e técnica realizam o mesmo exame todas as quintas feiras de manhã.

Esta manhã foi também ouvido o presidente da comissão que elaborou o inquérito interno instaurado pela direcção do Hospital Garcia de Orta e na sequência do qual as duas arguidas receberam repreensões escritas.

Foram ainda ouvidos pelo tribunal, os pais das duas crianças.

O julgamento prossegue da parte da tarde.

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