Há um artista no laboratório onde se estuda o cancro

Fotógrafo Pedro Barbosa aceitou o desafio de transformar o Ipatimup no seu próprio laboratório criativo

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Os jardins do Ipatimup foram primeiro espaço retratado pelo artista residente Pedro Barbosa/Ipatimup

O fotógrafo Pedro Barbosa, de 35 anos, aceitou o desafio de fazer uma residência artística no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup). Este tipo de iniciativa, comum em laboratórios internacionais, tem como objectivo a troca de experiências entre artistas e cientistas.

Pedro Barbosa “mudou-se” para o Ipatimup há quatro meses. Começou por fotografar os jardins do instituto e, depois, desenvolveu um trabalho sobre imagens de células vistas ao microscópio.

Não começar por fotografar os cientistas e os seus instrumentos foi uma opção. "Isto seria o óbvio. Eu sabia que, se entrasse logo nos laboratórios, esgotaria muito rapidamente o tema."

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A natureza ocupa um lugar privilegiado na obra do fotógrafo Pedro Barbosa/Ipatimup

A ideia de combate é, de alguma forma, explorada na série actual trabalhos do artista. Há imagens que evocam cartas militares e estratégias bélicas. Parecem questionar uma metáfora tradicionalmente associada ao cancro: a noção de que a doença é uma batalha travada no corpo do paciente, para a qual nos alertou há décadas a ensaísta Susan Sontag.

"É como fotografar zonas de conflito. Não é suave", diz Pedro Barbosa ao P3.

Olhar o Ipatimup por dentro 

Raquel Seruca, vice-presidente do instituto dedicado ao estudo do cancro, diz que uma das suas "ambições era abrir o Ipatimup a outras experiências". Um laboratório deve estar aberto à comunidade da qual faz parte e, por isso, Raquel acredita que a presença de artistas na instituição só a torna mais completa."Nunca tivemos um fotógrafo que pudesse olhar o Ipatimup por dentro, que despertasse em nós novas perguntas sobre o nosso trabalho."

Pedro Barbosa destacou-se este ano num concurso promovido pela revista científica EMBO. A publicação internacional estava à procura de uma imagem de natureza para a sua capa e recebeu cerca de três mil fotos. Entre os trabalhos finalistas da categoria não-científica, estavam oito imagens de Pedro Barbosa. A obra apresentada privilegiava elementos marítimos como gotas, algas, ondas e o fio do horizonte.

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