Dívidas aos cuidados continuados ameaça instituições e famílias

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A situação é de tal forma grave que levou à convocação de uma reunião do Conselho da União das Misericórdias Nelson Garrido/arquivo

A situação é de tal forma grave que levou à convocação de uma reunião do Conselho Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), na quinta-feira, conforme disse à Lusa o presidente da organização, Manuel Lemos.

Este responsável está preocupado com o estrangulamento financeiro das instituições devido aos atrasos nos pagamentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) pelo serviço prestado na área dos cuidados continuados.

A Rede dos Cuidados Continuados Integrados (RCCI) foi criada em 2006 e começou a funcionar no final desse ano. Desde então, já assistiu perto de 90 mil pessoas, contando para tal com instituições públicas (12 por cento), privadas (25 por cento) e sociais (mais de 60 por cento).

A dívida começou a acumular-se desde Maio e tem prejudicado a vida aos prestadores sociais de cuidados continuados.

Manuel Lemos garante que a dívida ainda não põe em causa a qualidade dos serviços prestados, mas reconhece que é preciso encontrar uma resposta para a situação, a qual poderá surgir no encontro de quinta-feira.

O presidente da UMP lembra que são milhares os utentes a quem estas instituições prestam cuidados continuados e não desmente o risco de colapso que ameaça algumas delas.

No sector privado a situação não é melhor e existem instituições que já ponderam solicitar o contributo das famílias para, pelo menos, ajudarem nas despesas com a alimentação.

Fonte ligada a vários hospitais privados que prestam estes cuidados disse à Lusa que é intenção destas instituições aguentarem o mais possível a dívida, pelo menos até ao final do ano.

A médio prazo, admitiu a mesma fonte, as famílias poderão ser chamadas a contribuir, mas a longo prazo, e se a situação não se normalizar, a solução pode passar pela alta do doente e, logo, a sua entrega à família.

A coordenadora da RNCCI, Inês Guerreiro, tem conhecimento das dívidas, mas garante que os atrasos não estão a afectar todas as instituições.

“O cenário não é de euforia, mas também não é de pessimismo suicidário”, disse à Agência Lusa.

Para Inês Guerreiro, esta é uma área que, “como todas as outras do Estado”, atravessa um momento difícil, mas que comparado com outras dívidas do sector é “uma gota de água”.

“Tudo se ultrapassará, com algum sacrifício dos prestadores, que têm sido fantásticos e têm obtido um resultado fantástico”, avançou, escusando-se a comentar questões financeiras por não ser por elas responsável.

Inês Guerreiro acredita que as dificuldades que o país atravessa não tirarão os cuidados continuados da agenda política, pois se isso acontecesse representaria a própria insustentabilidade do SNS.

“Começámos tarde, mas começámos. É impossível voltar atrás”, afirmou.

Contactada pela Lusa, fonte do gabinete do ministro da Saúde disse que a situação económica do país não permite que se façam planos de pagamento destas dívidas, das quais a tutela tem conhecimento.