"Avós da Praça de Maio" recebem prémio da Unesco com “enorme emoção”

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A ONG foi criada em 1977 por familiares de desaparecidos Marcos Brindicci/Reuters

A organização não-governamental argentina "Avós da Praça de Maio" exprimiu, na segunda-feira, a sua “enorme emoção” por ter recebido o prémio da paz Félix Houphouët-Boigny, atribuído pela Unesco.

“Gostaria de exprimir a enorme emoção que sinto, em nome de todas as avós e de todas as mães. Foram 34 anos de luta pela construção de uma democracia pela verdade, pela justiça e pela memória”, declarou, numa conferência de imprensa, a presidente da organização, Estela Carlotto.

A "Associação das Avós da Praça de Maio" é uma ONG de defesa dos direitos humanos, fundada em 1977 por familiares de desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina, que ocorreu entre 1976 e 1983. Há mais de 30 anos que tenta encontrar as crianças que foram adoptadas durante os cinco anos de regime militar e que foram tiradas dos pais, considerados revolucionários. A maioria destas crianças ficou sob a guarda de famílias de militares.

Até agora, as "avós" já conseguiram restituir a identidade de 105 crianças, num número de casos que se estima chegar aos 500. Segundo as organizações de defesa dos direitos humanos, a ditadura argentina foi responsável pelo desaparecimento de cerca de 30 mil pessoas.

“A nossa única intenção era transmitir esta história, que é importante para toda a humanidade. E é um grande orgulho para nós termos possibilitado que as crianças reencontrassem as suas famílias. Esse é o nosso maior prémio, mas este prémio [da Unesco] dá-nos mais força à nossa luta”, explicou. “É um milagre quando encontramos uma das crianças adoptadas. Nós, as avós, não temos mais tempo para esperar. A nossa vida abandona-nos a pouco e pouco”, contou a presidente.

Reunido em Paris, o júri atribuiu o prémio à organização pela sua “luta incansável pelos direitos humanos e pela paz, enfrentando a opressão, a injustiça e a impunidade”. Algumas das pessoas que regressaram às suas famílias graças à associação assistiram à cerimónia da entrega do prémio, que decorreu na terça-feira à tarde, na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Também a Presidente argentina, Cristina Kirchner, marcou presença, assim como vários chefes de Estado africanos, incluindo Alassane Ouattara, da Costa do Marfim, o senegalês Abdoulaye Wade e Mohamed Ould Abdel Aziz, presidente da Mauritânia.

O prémio, com o nome de Félix Houphouët-Boigny, primeiro Presidente da Costa do Marfim independente, foi criado em 1989 e é atribuído anualmente pela Unesco, juntamente com 109.448 mil euros.

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