CP quer abandonar serviços rodoviários alternativos nas linhas encerradas

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A Linha do Corgo foi fechada por "razões de segurança" em 2009. Nunca mais reabriu ADRIANO MIRANDA

Medida afecta linhas do Corgo e Tâmega, o Ramal da Lousã e os troços Guarda-Covilhã e Figueira da Foz-Pampilhosa. Permite à CP uma poupança anual de 2,4 milhões de euros

A CP entende que não deve continuar a transportar passageiros em autocarro nos eixos onde até há pouco tempo o fazia com as suas automotoras. Em causa está uma despesa anual de 2,4 milhões de euros nas linhas do Corgo e do Tâmega, no ramal da Lousã e nos troços Guarda-Covilhã e Figueira da Foz-Pampilhosa, que foram encerrados para obras e nos quais a CP continuou a assegurar a mobilidade das pessoas através de um serviço rodoviário alternativo contratualizado com operadores locais.

O pagamento desses serviços às empresas de camionagem custa à CP cerca de 200 mil euros por mês, dos quais a parte de leão cabe ao ramal da Lousã. Para assegurar o transporte dos seus passageiros que antes viajavam sobre carris entre Serpins e Coimbra, a CP paga 1,8 milhões de euros por ano em autocarros.

"Em locais onde não existe infra-estrutura ferroviária disponível para a prestação do serviço de transporte ferroviário, não deveria ser o operador deste transporte a ter que assegurar as alternativas de mobilidade, mas sim operadores rodoviários locais", argumenta a CP, em resposta a perguntas do PÚBLICO sobre a intenção de abandonar estes serviços.

"A CP já apresentou ao Governo e ao IMTT [Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres] esta posição e proposta no sentido de alterar a situação vigente, estando somente a aguardar a conclusão de estudos em curso pelo IMTT que deverão verificar se a oferta rodoviária nestes locais permite assegurar as necessidades de mobilidade das populações residentes", esclarece a empresa.

Historicamente, sempre que se encerraram linhas foi sempre implementado um serviço rodoviário alternativo, nalguns casos com autocarros da própria CP e noutros através de contratos com operadores privados. Isso aconteceu no fim dos anos oitenta nas linhas de via estreita de Trás-Os-Montes (Sabor, Tua, Corgo e Tâmega) e no Alentejo em torno da estrela ferroviária de Évora (linhas que partiam desta cidade para Portalegre, Vila Viçosa, Mora e Reguengos), durante alguns anos. Mas depois, progressivamente, e acompanhando uma redução da procura, esses serviços foram extintos.

A proposta da CP para as linhas agora "provisoriamente" encerradas vai no mesmo sentido, mas o paralelismo com o encerramento das linhas nos anos oitenta não se fica por aqui. Naquele tempo, como agora, as decisões foram comunicadas de forma abrupta. A linha do Tua foi fechada por um simples telegrama aos chefes de estação a dizer que o serviço estava "suspenso". Em Janeiro de 2009 foi também de forma repentina, com aviso na véspera, que fechou a linha da Figueira da Foz a Pampilhosa. Dois meses depois, no que sobrava das linhas do Corgo e do Tâmega, o serviço foi também suspenso por um ordem ditada em cima da hora por "razões de segurança", com duração "por tempo indeterminado".

A criação do serviço rodoviário alternativo que lhes sucedeu está agora em risco, o mesmo acontecendo no ramal da Lousã, onde milhares de passageiros ficaram também sem o comboio em troca da promessa, entretanto adiada, da construção de uma linha de metro de superfície.

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