Freguesia de Alcaria plantou um quintal biológico e já está a colher os frutos

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A quinta fica a cinco quilómetros de Porto de Mós Adriano Miranda/arquivo

A Junta de Freguesia de Alcaria, Porto de Mós, decidiu plantar um quintal biológico e já está a colher frutos: unir gerações, alimentar a vizinhança e criar movimento numa terra que não chega aos 300 habitantes.

Se Alcaria fosse uma grande escola, o quintal biológico que ali floresce seria o recreio onde, ao final da tarde, se juntam agora casais novos e avós com os netos à ilharga.

Sete dos canteiros já têm dono e há um guardado para as crianças com deficiência de Porto de Mós, explicou a presidente da Junta, Benvinda Januário, acrescentando que quando houver dinheiro haverá uma casa de madeira a vender produtos locais.

Entre dois cravos turcos que servem para afastar os insectos, Francisca Carvalhana Santos arrasta um regador sob o olhar atento dos avós, os minifundiários do canteiro número nove. Ignora o regulamento recentemente publicado pela Junta de Freguesia e que disciplina o quintal e rega tudo, seja no canteiro da família ou dos vizinhos que desconhece.

O irmão, de um ano, tão silencioso quanto aplicado, também não sabe a quem pertencem os canteiros, mas parece ter a certeza que as ervilhas, alfaces, couves, hortelã e coentros têm de ser constantemente mexidos para vingarem. A avó, Otília Carreira, traz uma courgette gigante na mão direita e a receita na ponta da língua: “estrumo, sacho para tirar as ervas daninhas, rego e espero que elas cresçam”.

O marido, Armando Santos, foi quem construiu os canteiros. Ambos moram a poucos metros do quintal. E têm uma outra horta, em casa.

Experiência, proximidade e a ajuda dos netos. Eis como se faz uma rica horta e como “se deixa de ir ao mercado, que os tempos estão difíceis”, sublinha Otília Carreira, já de fugida, porque tem de ir alimentar as galinhas.

Paulo Santos trabalha em marketing. Olha para a alface que tem na mão e já sabe como vender a quem não conhece o Quintal Biológico que o atrai quase todos os dias: “esta alface é de produção própria e vem do nosso pedaço de terra no paraíso”. O que o trouxe ao projecto foi “sobretudo o convívio, depois dos dias de trabalhos puxados”. Entre a troca de sementes e algumas palavras, até “se conseguem resolver alguns problemas fora do âmbito do cultivo”.

Celsedina Martins vem todos os dias de Porto de Mós, que fica a cinco quilómetros. Realça que nesta horta onde cresce a camaradagem às vezes chega-se ao quintal e o canteiro já foi regado por um dos vizinhos.

Francisca, “apanhada” ainda de regador em punho, diz porque gosta tanto do Quintal Biológico de Alcaria, com a simplicidade infantil que os seus seis anos a obrigam: “porque a horta tem bons alimentos para o nosso corpo e para o cálcio”.

No futuro, promete a Junta de Freguesia, haverá banquinhos para descansar e conversar. A ideia “é a partilha de experiências e que as pessoas aqui esqueçam o trabalho”, defende Benvinda Januário.

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