Doenças afectam até hoje membros das equipas de resgate de 11 de Setembro

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Trabalhadores das operações de emergência foram sujeitos a fumos tóxicos Reuters

Dez anos após os atentados de 11 de Setembro de 2001, muitos dos que participaram nas operações de emergência continuam a sofrer de doenças físicas ou mentais. Asma, sinusite, depressão ou stress pós-traumático são as principais doenças.

Nos dias que se seguiram aos atentados no World Trade Center de Nova Iorque, cerca de 50 mil pessoas participaram nas operações de emergência. Mas muitos bombeiros, polícias ou funcionários municipais estão ainda hoje a sofrer devido à elevada exposição a poeiras e fumos tóxicos. Entre 10 a 30 por cento têm doenças físicas ou mentais, segundo um estudo de investigadores da Mount Sinai School of Medicine de Nova Iorque que agora foi publicado na revista Lancet.

Os investigadores acompanharam 29.449 pessoas que participaram nas operações de emergência e de limpeza no World Trade Center, incluindo bombeiros, polícias, trabalhadores da área da construção ou da autarquia de Nova Iorque. Todas estas pessoas estiveram expostas a fumos tóxicos libertados pelo combustível dos aviões que embateram nas Torres Gémeas e também a poeiras e outras substâncias perigosas, como fibra de vidro ou amianto, libertadas pela derrocada das torres.

Para além disso, os que participaram nas operações de emergências foram também sujeitos a elevados níveis de stress, sublinha o estudo, citado pelo Los Angeles Times.

Os participantes no estudo foram divididos em quatro grupos, de acordo com os níveis de exposição e os locais exactos onde trabalharam. Cerca de 87 por cento eram homens e tinham em média 37 anos. Os investigadores acompanharam-nos ao longo dos primeiros nove anos após os atentados e concluíram que 27,6 por cento sofre de asma (a média antes do 11 de Setembro era de 10,5 por cento), 42,3 por cento tem sinusite e 39,3 por cento de refluxo gástrico.

No grupo em que se centraram os investigadores foram também diagnosticados muitos casos de depressão (27,5 por cento) e stress pós-traumático (31,9 por cento). Os autores concluíram que os polícias foram o grupo com menor risco de sofrer de doenças mentais, talvez devido ao treino que possuem e à sua experiência em lidar com situações traumáticas, adiantou o Los Angeles Times. Por outro lado, as pessoas que trabalharam no “ground zero”, como ficou conhecida a área onde se erguiam as Torres Gémeas, foram as mais afectadas por diversas doenças.

Num outro estudo também publicado na Lancet, efectuado pelo departamento médico dos bombeiros de Nova Iorque em conjunto com o Albert Einstein College of Medicine da Universidade Yeshiva e com o Montefiore Medical Centre de Nova Iorque, conclui-se que, entre os bombeiros, a exposição a fumos tóxicos aumentou o risco de cancro em cerca de 19 por cento.

Os bombeiros terão começado a questionar o seu departamento médico sobre o cancro, contou ao Guardian David Prezant, chefe do departamento médico dos bombeiros. “O que eles diziam depois de saírem daqueles locais depois de participarem nas operações é que a magnitude do fumo era bastante grande e que sentiam que tinham sido afectados de maneira diferente”. E adianta: “Diziam-nos repetidamente que a área tinha um cheiro diferente.”

No editorial publicado nesta semana pela Lancet, Mattew P. Mauer, do Departamento de Saúde do estado de Nova Iorque, sublinha a necessidade de continuar a acompanhar e a tratar estes casos. “Os últimos dados não deixam dúvidas sobre a necessidade de continuar a monitorizar, a tratar e a investigar sobre as operações de emergência no World Trade Center e as pessoas que nele participaram e a importância do estudo dos efeitos na saúde a longo prazo em qualquer plano de resgate no futuro”.

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