Jornalistas deixam o hotel Rixos após vários dias de cerco

Fotogaleria
Foto: Paul Hackett/Reuters
Fotogaleria
Foto: Paul Hackett/Reuters
Fotogaleria
Foto: Paul Hackett/Reuters
Fotogaleria
Foto: Paul Hackett/Reuters
Fotogaleria
Foto: Paul Hackett/Reuters
Fotogaleria
Foto: Paul Hackett/Reuters
Fotogaleria
Foto: Paul Hackett/Reuters
Fotogaleria
Foto: Paul Hackett/Reuters
Fotogaleria
Foto: Paul Hackett/Reuters
Fotogaleria
Foto: Paul Hackett/Reuters

A crise no hotel Rixos acabou – “todos os jornalistas estão fora!”, tuitava o correspondente da CNN, Matthew Chance, que estava entre os 35 estrangeiros detidos no hotel de luxo na capital por forças de Khadafi.

O correspondente dizia ainda: “Estamos a sair do hotel depois de seis dias de pesadelo completo. Mas a situação está ainda precária”.

Era o sexto dia em que 35 jornalistas e outros cidadãos estrangeiros estavam mantidos contra vontade no hotel Rixos, no centro de Trípoli, por forças leais ao regime de Muammar Khadafi, que patrulham os corredores fortemente armados e têm atiradores furtivos nos telhados.

À frustração de não poderem acompanhar o que se passa nas ruas da capital líbia – desde que os rebeldes lançaram, sábado, a sua ofensiva contra o último bastião do regime – somava-se o desconforto de estarem num dos últimos bastiões do regime, e o nervosismo e a apreensão com a deterioração das condições em que se encontram, com a comida e a água potável a escassear, falhas de electricidade e deficiências sanitárias.

“Ainda não é uma crise mas as coisas estão a ficar muito difíceis”, relatava o correspondente da BBC News Matthew Price. E Matthew Chance, da CNN, contava no Twitter esta manhã: “O meu pequeno-almoço foi um Mars”. Imagens difundidas por aquele serviço de microblogging mostram os jornalistas a caminhar em várias partes dentro do hotel, sempre rodeados de guardas armados, ou sentados no chão dos corredores, em desânimo, e envergando coletes à prova de bala, com TV bem indicada em fita adesiva.

Price, em declarações áudio transmitidas pelo programa televisivo Today, sublinha que “a situação se deteriorou profundamente durante a noite [passada]”: “Ficou perfeitamente claro que não nos seria permitido sair. Os guardas, que aparentam ser soldados de Khadafi, fortemente armados e muito bem treinados, patrulham os corredores e há snipers espalhados nos telhados. É já o quinto dia daquilo que podemos chamar um cerco e a verdade é que não conseguimos perceber como é vamos sair daqui. É impossível passar pelos guardas e também é impossível saber o que está a acontecer nas ruas para lá do hotel".

Com estes relatos a receberem cada vez maior eco na imprensa internacional, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, William Hague, sublinhou que o Reino Unido está a “seguir a situação hora a hora”, no final de uma reunião do Conselho de Segurança Nacional. “Estamos em contacto com os órgãos de comunicação a que [os jornalistas] pertencem, claro. E estamos muito preocupados com a sua segurança. Estamos também aquilo que podemos para ajudar, em contactos com o Conselho Nacional de Transição, e todos mais que possam ajudar”, afirmou.

A organização Repórteres sem Fronteiras denunciou já a situação do Rixos como uma tomada de “reféns” por parte das forças de Khadafi, os quais "estão feitos prisioneiros de um regime moribundo que recusa a depor as armas". Em comunicado esta agência de defesa dos direitos dos jornalistas apelou a todas as partes para garantirem o bem-estar das pessoas no hotel e instou o Conselho Nacional de Transição, órgão político da rebelião, a "fazer tudo o que está ao seu alcançe para permitir que os jornalistas façam a cobertura dos combates em liberdade e segurança".

Aliás, com os movimentos zelosamente controlados, os “sitiados” no hotel descrevem a ocorrência de “momentos de elevada tensão com os guardas” que os vigiam. “Ainda esta manhã um operador de câmara da ITN viu ser-lhe apontada uma AK-47 à cara para o forçar a recuar quando tentou ir filmar no exterior”, conta Price.

A maioria das mais de trinta pessoas no Rixos são jornalistas, sobretudo britânicos e norte-americanos, da BBC, Sky, CNN, Fox, agências noticiosas Reuters e Associated Press, e também de uma televisão chinesa. Mas ali estão também outros civis estrangeiros, incluindo um congressista norte-americano e um deputado da Índia. Nos primeiros dias da batalha de Trípoli temeu-se que estas pessoas pudessem ser usadas como escudos humanos pelas forças leais a Khadafi.

Jon Leyne, também da BBC mas que se encontra em Bengasi – bastião dos rebeldes na Líbia Oriental e onde tem sede o Conselho Nacional de Transição –, afirma que estão a ser tentadas negociações pelos jornalistas e demais estrangeiros do Rixos junto dos guardas, para conseguirem ser libertados. “Acho que eles estão demasiado optimistas, uma vez que eles mesmos narram ouvir intensos tiroteios e disparos de armamento pesado bem próximo”.

“Fica-se com a impressão de que há um qualquer valor de alvo muito elevado no hotel Rixos. Não se consegue compreender nenhuma outra razão para os leais a Khadafi estarem a defender [o local] tão fortemente, a não ser que estejam sem liderança e apenas continuem a cumprir as ordens que receberam antes e ninguém veio entretanto mudar”, sugere Leyne.

Mais tarde, havia mesmo quem especulasse que o próprio Khadafi pudesse estar sob o hotel, que seria ligado por um túnel subterrâneo ao complexo de Bab al-Azizyah.

Alguns dos guardas, conta Matthew Price, sustentam que têm que defender o seu país e a sua cidade: “Um deles estava a falar-nos do filho, de três anos, e alguns dos repórteres aqui que sabem árabe disseram-lhe que ele devia entregar as suas armas e ir para casa, não participar nisto, que já estava tudo acabado... mas ele respondeu que não. ‘Não, não, não. Temos que lutar pelo nosso país. Temos que lutar pelo nosso líder’, explicou-nos”.

Notícia actualizada às 16h00
Sugerir correcção
Comentar