Roberto Bolaño, o escritor chileno que sempre se considerou poeta, mas que ficou conhecido pelos romances, é fonte de inspiração para Alicia Scherson, que decidiu transportar para a tela uma obra menos conhecida do espólio literário do autor - “Una Novelita Lumpen”. A estreia está prevista para 2012.

Obras como “Os Detectives Selvagens”, “2666” ou “Nocturno Chileno” deram fama Robert Bolaño, ao contrário da poesia que tanto gostava de fazer. Os romances davam-lhe estabilidade financeira, algo que não acontecia quando era um poeta boémio, um “beatnik” do meio literário chileno.

A última obra que o escritor publicou em vida – “Una Novelita Lumpen” – vai ser adaptada para cinema, pela realizadora chilena Alicia Scherson. O romance, que ainda não foi traduzido para Português, não é considerado um dos melhores trabalhos do escritor chileno, e esta foi uma das razões por que Scherson decidiu escolhê-lo para fazer um novo filme. A realizadora revela que não se atreveria a pegar numa das obras mais conhecidas de Bolaño: “Jamais teria coragem de adaptar ‘Os Detectives Selvagens’ ou ‘2666’. Acho que não precisam de ser adaptados ao cinema. Seria difícil e creio que um suicídio”, confessou ao El País.

A realizadora costuma escrever os seus argumentos, mas sentiu-se imediatamente atraída pelo enredo da história e pelos seus intervenientes. “Não acho que os seus livros sejam muito cinematográficos. [Mas] quando li este pequeno romance, fiquei atraída pela voz feminina que narra a história. Fiquei obcecada com a ideia de transformá-la em imagens”, revelou ainda em entrevista ao jornal espanhol.

O fascínio de trabalhar esta obra do autor chileno - cujos direitos Scherson comprou em 2006 a Cármen Balcells, agente do escritor – levou-a interromper outra produção em que que estava envolvida. O estatuto que Roberto Bolaño atingiu, particularmente depois da sua morte – em 2003 – e o facto de ser a primeira cineasta a atrever-se a adaptar o seu compatriota para cinema não intimidou Alicia Scherson: “Estou muito tranquila com este desafio, apesar de existir muita adoração e fanatismo por Bolaño”.

“Una Novelita Lumpen”, que no formato de filme terá o título de “El Futuro” e cuja estreia está prevista para o próximo ano, transporta o leitor para uma obscura Roma, que abriga um conjunto de personagens errantes, como uma rapariga órfã e o seu irmão que mergulham nos recantos mais infernais da cidade. Um pouco ao estilo do que Bolaño explora nas suas obras. “É um romance curto, meio série B, dentro do seu mundo literário”, classificou ainda a realizadora, que considera a narrativa como “bom material para cinema”.

As rodagens acontecem entre Roma, Colónia e Santiago do Chile e contam com o apoio de quatro produtoras: Girafa (chilena), Pandora Film (alemã), Astronauta (espanhola) e Movimento Film (italiana). O filme será falado em Italiano.