Água canalizada tem bactérias resistentes a antibióticos

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Os riscos não são imediatos Eva Carasol (arquivo)

Um estudo da Universidade Católica do Porto identificou bactérias resistentes a antibióticos em água potável e em ETAR a nível nacional, um “problema de médio e longo prazo” para o qual são necessárias alterações de legislação europeias.

A investigação é da responsabilidade da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto, que detectou e identificou “a existência de bactérias resistentes a antibióticos em água potável e em estações de tratamento de águas residuais domésticas”.

A investigadora responsável, Célia Manaia, explicou que ficou concluído que “o tratamento de águas nas ETAR não é suficiente para eliminar completamente essas bactérias resistentes a antibióticos”.

“Estão a ser libertadas dos efluentes bactérias que não são patogénicas para os humanos, mas que podem ser uma fonte de transmissão dessas resistências, que depois entram nos rios e nas águas de superfície e que muitas vezes até podem chegar às nossas águas de consumo”, explicou.

Segundo a investigadora, o estudo foi feito em diversas ETAR de diferentes regiões do país – pesquisa que começou em 2004 e durou até 2009 – sendo este “um problema que é inerente ao próprio funcionamento das ETAR”, não havendo assim “incumprimento ou funcionamento deficitário” das estruturas.

“O que a maior parte das ETAR não têm em Portugal é um tratamento que permita a desinfecção da água, que como elimina grande parte da carga bacteriana iria ser aí uma vantagem grande. Embora encareça muito o tratamento das águas, poderia ser muito favorável em termos ambientais e de saúde pública”, observou.

Questionada sobre os riscos de saúde pública destas bactérias, Célia Manaia respondeu que estes “não são imediatos”.

“O que acontece é que desde que se usam antibióticos, há 70 anos, a resistência a estes tem-se vindo a acumular no ambiente. Isto é um problema de médio a longo prazo”, sublinhou.

A professora da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto acrescentou ainda que o “objectivo maior é alertar consciências e a legislação olhar um pouco para este problema”.

“Uma alteração de legislação que deve ser feita ao nível europeu. O problema da resistência aos antibióticos é à escala global. Quer a legislação quer todo este sistema de alerta que se podem implementar têm que ser integrados”, defendeu.

Para Célia Manaia, “um dos grandes passos que se daria era os hospitais passarem a ter tratamento dedicado dos seus efluentes que não são obrigados a ter”.

A investigadora deixou ainda uma alerta adicional: “o uso irracional e indevido de antibióticos é um dos principais factores que contribui para isto, porque as bactérias vão convivendo cada vez mais com esses antibióticos, tornando-se cada vez mais resistentes”.

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