Reconquistar Portugal
Aqueles a quem foi atribuída a tarefa de "vender" o nosso país ao estrangeiro não a terão entendido de um modo... literal?
No momento em que este artigo foi enviado para publicação, ainda estava activo o sítio ConquistaElAlentejo.com - tal como a campanha do mesmo nome promovida pelo Turismo de Portugal. Desde há algum tempo alvo de indignados protestos e até de uma petição, sem dúvida que esta iniciativa escandalosa e vergonhosa já deveria ter sido suspensa e cancelada e os seus autores e (ir)responsáveis sumariamente despedidos. Mais: ela não deveria ter sido concebida nem aprovada!
Porém, sejamos sinceros: é verdadeiramente surpreendente que neste país se apele aos espanhóis que "conquistem" o Alentejo ao visitá-lo, incentivando-os com uma imagem de uma bandeira vermelha e amarela (que não é de proibição de tomar banho nem de nadar) hasteada numa praia lusitana? Não, quando o mesmo Turismo de Portugal, anteriormente, decidiu "rebaptizar" a nossa região mais a sul como "ALLgarve" para inglês (e não só) ver. Consequências de outra anterior e famosa campanha, "Portugal - Europe"s West Coast (by Nick Knight)"? De qualquer forma, ficamos agora à espera de saber - se entretanto continuarem nos seus lugares - o que os "grandes génios" no TdP irão fazer com as Beiras e com a Estremadura - provavelmente, quem sabe, torná-las mais atraentes a alemães e a franceses... ou a chineses, com ou sem charters!
É de perguntar se aqueles a quem foi atribuída a tarefa de "vender" o nosso país ao estrangeiro não a terão entendido de um modo... demasiado literal. Não é inevitável que para publicitar Portugal se tenha de "meter na gaveta" o amor-próprio (individual e colectivo), a noção de dignidade, o orgulho patriótico... e o sentido do ridículo. No entanto, são já demasiados os exemplos desse tipo de "conversão". Outro foi a candidatura "luso-espanhola" - felizmente fracassada - à organização do Campeonato do Mundo de Futebol de 2018, em que a única língua utilizada era o castelhano e em que um dos objectivos passava pelo enaltecimento do Homo ibericus! Entretanto, tal "missão" passou, tudo o indica, para a equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica, onde a língua de Camões está quase extinta e a de Cervantes (com "variantes" espanhola, uruguaia, argentina e paraguaia) é quase exclusiva. Neste caso "conquistou-se" além do Alentejo: de Olivença ao Estádio da Luz foi um instante.
Os que "desnacionalizam" Portugal no turismo e no desporto (e em outras actividades), tal como os que, cada vez mais, anunciam a sua "rendição" ao acordo ortográfico, possuem pelo menos uma das "qualidades" como a cobardia, a inconsciência, a mediocridade, a subserviência... que para eles se confunde com sobrevivência. Teriam de certeza carreiras de sucesso entre 1580 e 1640, com os três Filipes, e entre 1807 e 1808, com Jean Junot. Prestes a celebrar-se, a 14 de Agosto, mais um aniversário da Batalha de Aljubarrota, não é este, na verdade, o panorama mais animador para os que prezam a independência e a identidade do nosso país - actualmente arruinado e sob protectorado político-económico da União Europeia. O momento que se atravessa tem, todavia, uma vantagem: a de melhor e mais facilmente se poder separar "o trigo do joio", se traçar uma linha, se saber quem tem (ou não) coragem. Há que reconquistar Portugal... mesmo apesar de - ou contra - alguns "portugueses". Jornalista e escritor