Suspensa certificação florestal em 82 mil hectares de eucalipto em Portugal

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Exploração de eucalipto em Março 2010 Quercus

Os 82 mil hectares da Altri Florestal encontram-se com o certificado internacional de gestão sustentável FSC suspenso, depois de a Quercus ter alertado para problemas de erosão do solo e de perda de espécies protegidas.

A floresta gerida pela Altri Florestal, um dos maiores produtores de pasta de papel do país, estava certificada pelo FSC (Forest Stweardship Council) desde o ano passado. Mas a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza detectou recentemente alguns problemas que acabaram por levar à suspensão da certificação.

Em algumas zonas das regiões Centro e Norte a associação detectou “situações de erosão dos solos, plantações que não foram feitas segundo as curvas de nível e que causaram o arrastamento das camadas superiores do solo, e o corte ou derrube de espécies florestais protegidas, como o sobreiro e azinheira”, explicou Nuno Sequeira, presidente da direcção nacional da associação. Além disso, “devia existir uma maior compartimentação da floresta de eucalipto, intercalando com floresta autóctone, mais resistente a incêndios e verdadeiro refúgio da biodiversidade”, acrescentou ao PÚBLICO. Numa das propriedades da empresa, dentro do Parque Natural do Tejo Internacional, a Quercus denunciou ainda a instalação de uma cerca com arame farpado “sem passagens para a fauna selvagem”, apresentando risco para várias espécies, como o veado.

Nuno Sequeira salientou que “na vasta área gerida pela Altri há uma grande parte gerida correctamente. Mas acontece que esta certificação do FSC é muito exigente e diz respeito à totalidade da área explorada, não parcelas”.

A Quercus, membro do FSC Portugal, acredita que a suspensão do certificado vai contribuir para a empresa “melhorar e corrigir situações”. “Julgamos que a Altri tem feito algum esforço para minorar os grandes impactos da exploração intensiva de eucalipto, mas esse esforço não tem sido o suficiente”, acrescentou Nuno Sequeira.

O PÚBLICO contactou a Altri mas não foi possível obter um comentário.

Em Portugal, tem havido nos últimos anos “uma maior sensibilidade dos produtores florestais para o maior risco de incêndios, para a conservação da biodiversidade e para a protecção dos solos”, considera Nuno Sequeira. Mas como é difícil “minimizar os impactos negativos deste tipo de explorações intensivas, é preciso ter cautela. O país não tem condições, por exemplo, para um alargamento da superfície explorada”.

Esta terça-feira, outra organização para a protecção do Ambiente, a WWF Portugal, mostrou-se preocupada com a redução da área florestal certificada. A estrutura lamentou, em comunicado, a "falta de ordenamento e deficiente gestão de uma parte significativa das plantações florestais em Portugal". Como consequência, "mantém-se o elevado risco de incêndio florestal, a perda de produtividade e biodiversidade da floresta portuguesa e a escassez de matéria-prima nacional".

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