Roberto foi comprado por fundo de investidores e cedido ao Saragoça

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O regresso de Roberto a Espanha provocou polémica Público

Clube aragonês diz que não investiu porque foi um grupo de empresários que adquiriu o guarda-redes ao Benfica.

Um clube espanhol (Saragoça) em graves dificuldades financeiras contratou um guarda-redes (Roberto) que já conhecia mas que estava na mó de baixo. Até aqui nada de surpreendente. As buzinas da curiosidade só soaram quando se soube que o emblema aragonês vai pagar 8,6 milhões de euros, mais 100 mil do que o Benfica tinha pago há um ano ao Atlético de Madrid (um valor que já tinha causado espanto). O montante do negócio fez os adeptos do Benfica esfregarem as mãos de satisfação, mas causou perplexidade, a ponto de a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) não ter ficado satisfeita com a informação dada pelo clube da Luz.

O organismo regulador pediu ontem "esclarecimentos adicionais" e com "carácter urgente" sobre a transferência. "O Benfica não tem nenhum problema em esclarecer a CMVM sobre este ou outros negócios", respondeu ao PÚBLICO o director de comunicação do clube. João Gabriel lamentou ainda que os critérios aplicados ao Benfica "sejam diferentes dos aplicados a outras sociedades". O clube da Luz só hoje dará mais explicações sobre um negócio que entra para a lista dos mais surpreendentes do futebol português (ver outros exemplos, ao lado).

Ainda ainda antes do pedido da CMVM, o Saragoça explicou, em comunicado, que a transferência de Roberto não implicou investimento por parte do clube. Os direitos económicos do guarda-redes foram adquiridos por um fundo de investidores, que cedeu à formação aragonesa os direitos desportivos. Ao que o PÚBLICO apurou, Agapito Iglesias, presidente do clube, é um dos participantes desse fundo, mas não o principal, porque terá havido a participação de outros investidores - não foi possível confirmar se o empresário Jorge Mendes, que intermediou a transferência, também faz parte deste grupo.

O Saragoça negou também que na transferência de Roberto tenha existido qualquer acerto de contas entre os dois clubes relativo à mudança de Pablo Aimar, para o Benfica em 2008.

E nem só em Portugal o valor da transferência está a causar perplexidade. Em Espanha, o montante é considerado exagerado e ontem provocou reacções em cadeia. Os outros clubes em administração judicial (actualmente são 13 os emblemas em dificuldades) protestaram pelo facto de o Saragoça fazer uma contratação tão cara, quando é o clube com maiores dívidas - mais de 100 milhões de euros - entre os que pediram ajuda.

A Comissão Delegada da Liga (LFP) espanhola deverá decidir hoje pela não validação da administração judicial do Saragoça. Isto não tem consequências a nível jurídico, porque a LFP não é credora do Saragoça, mas constitui um aviso à gestão de Agapito, até porque é a primeira vez que esta comissão delibera neste sentido.

Os clubes reprovam que o presidente do Saragoça tenha recorrido a um método que, apesar de ser legal, ninguém partilha no futebol espanhol. Até porque esta é a primeira vez em que um clube insolvente adquire um jogador tão caro. Também a Associação de Futebolistas Espanhóis repudiou a política de gestão do clube.

Agapito Iglesias é uma figura polémica em Saragoça. Empresário na construção civil, tornou-se o maior accionista da SAD do clube em 2006 e nomeou presidente o então conselheiro (equivalente a ministro) de Economia no governo autonómico de Aragão. No final de 2009, com a demissão de Bandrés, Iglesias assumiu a presidência. Os adeptos do Saragoça não lhe perdoam a descida de divisão em 2007-08 e o crescimento da dívida. O clube atravessou momentos delicados e esteve em risco de desaparecer, até ter recorrido voluntariamente à administração judicial, em Junho.

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