Alemanha opta por nova matriz energética

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Esta viragem abre as portas para um sector de energia eficiente, sustentável, seguro e economicamente viável no século XXI

A Alemanha abandonará a energia atómica até 2022 e até lá investirá ainda mais numa viragem energética de fundo. Pretendemos começar a traçar agora, a longo prazo e de forma irreversível, a rota em direcção a um abastecimento de energia limpa, a preço acessível, mas também segura. Atingiremos este objectivo investindo em áreas da economia que se baseiam nas tecnologias do futuro.

A grande maioria da população na Alemanha apoia esta decisão. A discussão em torno do uso da energia nuclear para fins civis envolveu a política e a sociedade num debate profundo durante muitos anos. Chegámos agora a um consenso amplo e democrático que considera possível a mudança de rumo na política energética - do ponto de vista técnico, conceptual e económico. A tragédia de Fukushima levou a uma reavaliação dos riscos da energia nuclear e acelerou a viragem energética.

Os nossos vizinhos e parceiros acompanham a nossa viragem acelerada com atenção redobrada e, em parte, crítica. Temos tido bastante apoio de Portugal, um país que tem apostado fortemente nas energias renováveis. Uma coisa é certa: após uma intensa discussão, a Alemanha estipulou para si própria objectivos ambiciosos, mas realistas: a segurança do abastecimento energético, a viabilidade económica e a compatibilidade com o clima e com o meio ambiente. Até Março de 2011, os 17 reactores nucleares da Alemanha geravam 22% da energia eléctrica necessária para o consumo nacional. Depois de terem sido desactivados oito reactores nucleares em Março de 2011, a fatia produzida pelos nove restantes é de, aproximadamente, 15%.

Actualmente, as fontes de energia novas e renováveis, o aperfeiçoamento da gestão de sistemas e o aumento da eficiência compensam a diferença causada pelo encerramento dos reactores. No futuro, a energia obtida de fontes renováveis e centrais eléctricas a gás com baixas emissões de carbono substituirá gradualmente a tecnologia nuclear. As centrais movidas a combustíveis fósseis continuarão a ser necessárias temporariamente durante o período de transição. Porém, os nossos objectivos climáticos continuam inalterados. Isto é, por um lado, há o compromisso da UE de diminuir as emissões de CO2 em pelo menos 20% até 2020 e, por outro, o objectivo previsto na Alemanha de reduzir as emissões em 40%.

Em 2010, a Alemanha produziu 17% da sua energia eléctrica a partir de fontes renováveis. O objectivo é alcançar 35% até 2020 e 50% até 2030. A viragem energética não significa que a Alemanha esteja a aumentar a sua dependência de outros fornecedores. O Governo Federal está a investir mais do que nunca nos três instrumentos centrais para garantir a auto-suficiência em termos energéticos: a expansão das redes, o desenvolvimento das energias renováveis e a intensificação da eficiência energética.

Cada país toma as suas próprias decisões em relação à sua matriz energética, como também é o caso dos estados-membros da União Europeia. Mas muitos riscos não respeitam as fronteiras nacionais. Por esta razão, vemos com bons olhos os testes de resistência realizados na Europa que permitem verificar a segurança de centrais nucleares de forma fidedigna e comparável. Temos de nos assegurar que os acidentes como os de Three Mile Island, Chernobyl e Fukushima não se repitam.

Necessitamos também de concluir a realização do mercado interno europeu na área da energia se pretendermos alcançar os nossos objectivos em matéria de política energética e climática. A articulação das redes nacionais deve ser realizada de forma inteligente e voltada para a procura. As potencialidades de poupança de energia devem ser exploradas da melhor forma possível. É fundamental considerar a economia de energia como uma "fonte de energia".

A Alemanha está profundamente comprometida com esses objectivos. Os esforços da UE e da política energética nacional dos estados-membros têm de se complementar. Na área da política energética o lema também deve ser mais Europa, não menos.

Na qualidade de ministro federal dos Negócios Estrangeiro, estou empenhado na defesa do aproveitamento conjunto e a nível mundial das chances resultantes do desenvolvimento global das energias renováveis. Apoiamos o desenvolvimento do projecto Desertec, que pode fornecer energia eléctrica limpa, oriunda de regiões desérticas, aos países industrializados com a ajuda de centrais de energia solar, parques de energia eólica ou também energia solar fotovoltaica. Soluções que no passado pareciam ser utópicas ou impagáveis começam a tornar-se viáveis do ponto de vista técnico e económico ou já estão praticamente ao nosso alcance. Na Alemanha, as energias renováveis já criaram muitos postos de trabalho. Portugal conta-se entre os países europeus líderes na produção de electricidade a partir de energias alternativas e também reconheceu que isto lhe traz vantagens económicas, por exemplo, criando postos de trabalho.

Como um dos países mais industrializados do mundo, a Alemanha prossegue, através desta viragem energética acelerada, o caminho que já havia traçado há muito em termos de tecnologia e planeamento. Esta viragem energética não será levada a cabo em detrimento da nossa produtividade, do meio ambiente ou dos nossos países vizinhos, mas abre as portas para um sector de energia eficiente, sustentável, seguro e economicamente viável no século XXI. Convidamos os nossos parceiros para uma cooperação intensa e construtiva, a fim de podermos aproveitar as chances que advêm dessa viragem. Ministro Federal dos Negócios Estrangeiros da Alemanha

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