Obama avisa que tempo para acordo está "a esgotar-se"

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Obama apelou ao "bom senso" dos republicanos Larry Downing/Reuters

Numa altura em que o impasse nas negociações entre a Casa Branca e os líderes congressistas republicanos para aumentar o limite da dívida externa dos Estados Unidos está a deixar os mercados, e a China em particular, nervosos, Barack Obama avisou ontem que o tempo para chegar a um acordo político está "a esgotar-se".

O Presidente americano deu ontem a sua terceira conferência de imprensa em 17 dias sobre o estado das negociações entre a Casa Branca e o Congresso, um processo que dura há vários meses, mas que atingiu um ponto dramático na última semana, com a aproximação da data-limite - 2 de Agosto - em que a administração diz que deixará de ter dinheiro para pagar as contas públicas e com sucessivas notícias na imprensa que dão conta das tensões que têm dominado os encontros diários entre Obama e os líderes republicanos, com alguns dos protagonistas a bater com a porta e a trocar acusações. O aumento do limite da dívida, que permitiria aos EUA pedir mais empréstimos ao exterior para manter a situação fiscal em ordem, depende da aprovação do Congresso, dominado pelos republicanos, que fizeram da redução da despesa pública condição sine qua non para aceitar qualquer acréscimo da dívida.

O aparente estado de bloqueio das negociações levou as agências Moody"s e Standard & Poor"s, nos últimos dias, a colocarem a dívida americana sob vigilância negativa e a ameaçarem rever a classificação máxima do crédito dos EUA, que goza do nível AAA, considerado o mais seguro para investidores.

Mas o Presidente americano, na sua característica capacidade para desdramatizar (o que lhe valeu a alcunha de "no drama Obama"), mostrou-se ontem confiante de que um acordo será possível. Quando uma jornalista perguntou que razões tinha para acreditar num acordo, recuperou o seu slogan de campanha em 2008. "I always have hope" ("Eu tenho sempre esperança"), disse, rindo. "Não se lembra da minha campanha? Eu continuo a ter esperança, mesmo depois de dois anos e meio na Casa Branca."

Obama, que enfrenta o desafio da reeleição, espera que os americanos o vejam como a voz adulta num debate que pode decidir as presidenciais de 2012. O seu tom foi menos combativo e mais conciliador do que nas anteriores duas conferências de imprensa, onde procurou responsabilizar os republicanos pelo impasse nas negociações.

Casa Branca e republicanos concordam que têm de fazer cortes no défice, mas discordam nos métodos necessários para atingir esse objectivo: a administração Obama e democratas insistem, para além da redução da despesa, no aumento dos impostos dos americanos mais ricos para os 2 por cento, enquanto os republicanos defendem a reforma dos programas de assistência social e rejeitam qualquer aumento de impostos que, dizem, pode penalizar a criação de emprego.

O Presidente americano insistiu ontem na necessidade de ambas as partes fazerem "sacrifícios", mostrando-se disposto a fazer alterações nos programas sociais, como o sistema de saúde, tema caro para os democratas, se os republicanos reconsiderarem a sua posição sobre o aumento de impostos. Obama disse que não se pode pedir sacrifícios à classe média e "aos mais vulneráveis" e deixar de fora "milionários e bilionários".

O plano apresentado pelos republicanos em Maio prevê uma semiprivatização do Medicare, o sistema de saúde subsidiado pelo Governo, mas Obama defendeu ontem que é possível fazer "modificações modestas" nos programas sociais e poupar "biliões de dólares", sem necessidade de reestruturá-los. "Não precisamos de fazer nada de radical para resolver este problema. Ao contrário do que algumas pessoas dizem, não somos a Grécia, não somos Portugal".

Seja como for, a Casa Branca já parece preparar-se para a eventualidade de não se chegar a acordo. O Washington Post noticiou ontem que, em privado, a administração Obama prepara um plano de contingência para tentar evitar a ruptura financeira caso o limite da dívida não seja aprovado, sondando investidores e instituições bancárias e ponderando vender reservas de ouro e crédito imobiliário. Mas a resposta dos mercados tem sido céptica, avisando que um default assustaria investidores e ameaçaria o sistema financeiro.

Notícia substituída às 15h20 de 16 de Julho
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