Caixas automáticas Multibanco

Os portugueses sabem que uma caixa Multibanco não serve só para levantar dinheiro. Nela pagamos a conta da luz, portagens, multas ou o IRS, carregamos o passe ou o telemóvel, depositamos cheques, fazemos transferências, compramos bilhetes de comboio ou de concertos, até emitimos licenças de caça e pesca. As mais de 90 operações que efectuamos em cada caixa, de forma gratuita e 24h por dia, fazem do Multibanco um orgulho nacional e uma referência a nível mundial.

Criado em 1985 pela Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS), o Multibanco é hoje uma marca que designa não só uma rede de 14 mil caixas automáticas e 280 mil terminais de pagamento automático, mas também um conjunto de serviços que incluem pagamentos na Internet e telemóveis, bem como dispositivos de segurança bancária. Tudo começou, porém, pela caixa ATM (Automated Teller Machine).

Após criar a primeira identidade visual do Multibanco, que aludia a uma imagem de confiança no sistema bancário e na tecnologia, a Novodesign criou também o primeiro interface relacional de ATM do mundo. Em vez de apenas conter letras e números, em Portugal, o ecrã de uma ATM recebia os seus utilizadores com um sorriso.

Afectivamente chamado de Multinho pelos quadros e técnicos da SIBS, o anfitrião do sistema - um conceito do então director criativo da Novodesign, Paulo Rocha - saudava-nos com "Por favor, introduza o seu cartão", para depois nos conduzir por um sistema intuitivo de operações onde redundâncias entre teclas e menus, além de opções para indivíduos com limitações de visão, nos ajudavam a decidir da forma eficiente e rápida.

Em 2008, o Multibanco e o Multinho mudaram de cara. Vinte e cinco anos depois da sua fundação, a SIBS chamou a Brandia (ex-Novodesign) para repensar a identidade do seu grupo de empresas, em plena fase de consolidação e expansão internacional. Para Miguel Viana e José Cerqueira, respectivamente director criativo e responsável pela área de Brandvoice da Brandia, o Multibanco passou de um "acelerador de consumo dos portugueses" para se tornar num "elemento facilitador" das suas vidas, aliando "independência de movimentos" a uma credibilidade assegurada.

O cartão tornou-se assim não num símbolo de tecnologia (um dado adquirido no século XXI), mas de acesso, de acção: não mais o rectângulo horizontal e estático do logótipo anterior, este cartão passou a ser representado em perspectiva, como em vias de ser usado.

No ecrã, o Multinho perdeu as luvas, as botas e a perna traçada para nos receber de braços abertos. Os designers Carlos Constantino (que redesenhou o logótipo), Miguel Sousa Guedes (Multinho) e Cláudia Dias (ecrãs) estiveram na equipa que trabalhou com os técnicos e programadores de software da SIBS na implementação e validação do novo interface, tendo em conta padrões existentes de utilização e o hardware, ou melhor, as caixas disponíveis no terreno.

O que este perdeu em profundidade e contraste ganhou em equilíbrio tipográfico e redundância cromática: note-se como o fundo muda de cor de acordo com a mensagem expressa pelo Multinho no seu balão. Como exemplo, Carlos Constantino explica que, estando a caixa "fora de serviço, o vermelho toma conta de todo o ecrã, sendo mais fácil a sua visualização a uma maior distância".

A sinalização das caixas Multibanco também foi redesenhada. Por razões de logística e orçamento, o trabalho de Henrique Ralheta, head designer de design industrial na Brandia, "passou por manter as mesmas "bandeiras" e respectiva infra-estrutura de iluminação, e criar apenas novas frentes, planas e opacas para deixar apenas iluminação no logótipo." Mais legível (sobretudo à noite) graças ao novo fundo preto, esta bandeira deveria ainda ser "pouco impositiva porque está geralmente associada a um banco", evitar "criar conflitos visuais" e de marcas, mas "defender uma visibilidade particular."

É precisamente isso que hoje celebramos: a forma particular como, todos os dias, este autêntico sistema circulatório nacional nos é tornado visível.

frederico@05031979.net

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