Descida do rating pela Moody’s é “imoral e insultuosa”, diz o presidente da CGD

Foto
Fábio Teixeira (arquivo)

O presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) considera “imoral e insultuosa” a descida do rating de Portugal anunciada na terça-feira pela agência de notação financeira Moody’s, salientando que as autoridades europeias devem reagir a este “ataque”.

Fernando Faria de Oliveira, em declarações à Agência Lusa, vincou que “a alteração do ‘rating’ da República pela Moody`s é imoral e insultuosa. Imoral em relação aos argumentos e fundamentos, insultuosa para Portugal, que com um novo Governo maioritário e o apoio de 80 por cento dos eleitores está a aplicar rápida e determinadamente o acordo com a troika”.

O presidente do banco público defende que esta decisão da Moody’s ofende igualmente a “União Europeia, a Comissão Europeia e os Estados Membros, e também o Fundo Monetário Internacional (FMI), que deram o seu aval ao acordo que agora começou a ser implementado”.

Em sentido contrário ao do mercado

Por seu lado, o economista João Duque sublinhou, em declarações à rádio TSF, que “o mercado estava a reconhecer algum efeito das medidas do Governo e a Moody’s vem contrariar o próprio mercado”.

Não considera “muito dramática” a decisão da Moody’s de baixar o rating de Portugal “no sentido em que há um aspecto positivo nesta descida”, em seu entender, “que é nós podermos demonstrar definitivamente à Moody’s e aos mercados que nós estamos num caminho que, aliás, o mercado estava a reconhecer nas últimas sessões”.

João Duque, que é catedrático no ISEG (em Lisboa) diz no entanto que não se “admirava” se as outras agências de notação financeira seguissem o exemplo da Moody’s. Mas adverte para que “uma crispação de relações não seria favorável. Temos de fazer o nosso trabalho e libertar informação a prazo certo e dentro do calendário”.

Por sua vez Luís Mira Amaral, antigo ministro do PSD e presidente do BIC, classificou a decisão da Moody's de "infeliz e terrorista".

“É evidente que o país não está em boa situação, mas acho manifestamente infeliz e até terrorista fazer esta descida de ‘rating’ neste momento, quando entrou um novo Governo que teve a maioria absoluta”, disse à Lusa.

A deputada do PS Maria de Belém acusou, também em declarações à TSF, as agências de rating de estarem ao serviço de empresas que querem lucrar com as próximas privatizações em Portugal, por deste modo fazerem cair o valor das empresas.

Três argumentos da Moody´s

A agência de notação financeira Moody’s cortou hoje em quatro níveis o ‘rating’ de Portugal de Baa1 para Ba2, colocando a dívida do país na categoria de lixo (‘junk’).

Em comunicado, a agência de notação financeira apresenta três razões que justificam esta queda abrupta. Por um lado, o risco crescente de Portugal precisar de um segundo pacote de empréstimos internacionais antes de conseguir regressar aos mercados no segundo semestre de 2013

O segundo argumento é a “possibilidade crescente de a participação dos investidores privados ser imposta como pré-condição” para esse segundo resgate, à semelhança do que está a ser estudado no âmbito de um segundo pacote de ajuda à Grécia. E o terceiro é o agravamento dos receios de que Portugal não seja capaz de cumprir a totalidade das metas de redução do défice e da dívida acordadas com a União Europeia e com o Fundo Monetário Internacional, no âmbito do empréstimo de 78 mil milhões de euros.

Sugerir correcção
Comentar