O antes e o depois da Toyota na vida do empresário que gostava de ter sido actor

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Salvador Caetano, na apresentação de um autocarro, em 2003 Luis Efigénio/arquivo

Salvador Caetano tem um enorme orgulho no seu percurso empresarial e, como mais um punhado de outros empresários que começaram do nada, acha que a sua vida dava um filme. Artigo publicado originalmente a 24 de Fevereiro de 2008

Por enquanto, está apenas retratada em livro, onde se pode ler o que Salvador Caetano já repetiu muitas vezes: começou a trabalhar quando ainda era uma criança, aos 11 anos, como aprendiz de construção civil, e aos 18 anos estabeleceu-se por conta própria numa oficina. Aos 20 anos criou, com dois sócios, a empresa Martins & Caetano & Irmão, Lda., uma fábrica de carroçarias de madeira para autocarros, que acabaria por ser, já sem os sócios, o embrião da Salvador Caetano, Indústria Metalomecânica e Veículos de Transporte (1949).

No início da década de 60, Salvador Fernandes Caetano inicia contactos para representar a Toyota em Portugal. Com pouco mais do que a escola primária, mas com a determinação que todos lhe reconhecem, decidiu passar uns tempos em Londres, para aprender a língua com que teria de se entender com os japoneses - o inglês. Um ano antes da aliança com a Toyota, de quem se torna representante exclusivo em Portugal em 1968, concretiza o primeiro contrato de exportação de autocarros para Inglaterra.

A aliança à Toyota "foi um casamento perfeito", diz o empresário Rodrigo Leite, próximo de Salvador Caetano por relações de amizade e de negócios. E hoje é difícil dizer o que teria sido Salvador Caetano sem esse casamento.

Rodrigo Leite destaca que "ambição" e "perspicácia" são qualidades que não faltaram a Salvador Caetano e que lhe permitiram "construir uma obra extraordinária".

A pouco mais de um mês de completar 82 anos, Salvador Caetano é visto por muita gente como um homem "simples" e "socialmente afável". O actor Nicolau Breyner, amigo de longa data, salienta as suas "qualidades humanas" e revela o que para muitos pode ser desconhecido: Salvador Caetano gostava muito de teatro e confessou-lhe várias vezes que gostava de ter sido actor. Mas há outra faceta que só as pessoas que trabalharam com ele conhecem, que é a de um homem "implacável nos negócios", "que geria as empresas com mão-de-ferro" e que "as relações familiares ou de amizade de nada valiam quando era preciso fazer sangue". Três anos depois do acordo de representação da marca japonesa, o grupo português inaugura a fábrica de Ovar, com capacidade para montar 50 automóveis/dia. Pouco tempo depois, essa unidade foi reconvertida para a montagem de veículos comerciais.

Em 1972, o grupo Toyota compra uma participação de 27 por cento no capital da Salvador Caetano. O empresário aceitou essa parceria na esperança de que os japoneses construíssem uma fábrica da Toyota em Portugal, que fabricasse carros para toda a Europa. Salvador Caetano acalentou esse sonho durante muitos anos, mas até hoje não o concretizou. Primeiro por alegados condicionalismos políticos do país e depois por decisão dos próprios japoneses de localizar essa fábrica noutro país europeu, a Inglaterra. Na década de 80, acompanhando o ritmo de crescimento da economia nacional, Salvador Caetano cria a Fojeca, sua holding pessoal, e à margem dos japoneses começou a desenvolver outros negócios no sector automóvel e em muitos ramos de actividade.

É por esta altura que consegue a importação e distribuição da marca BMW, expande o fabrico de autocarros e entra em vários negócios, muitos deles em parceria com outros empresários do seu ciclo de relações, como Laurindo Costa (Soares da Costa), Rodrigo Leite (fundador da Tertir) e Belmiro de Azevedo (Sonae). Passou também a operar directamente em vários países, com destaque para Espanha, Inglaterra e Alemanha, Cabo Verde e Angola.

O Grupo Salvador Caetano cresceu muito e hoje, apesar do peso elevado do sector automóvel (47 por cento das vendas em 2006), a contribuição da Toyota representará aproximadamente um quarto do total de facturação. A holding Grupo Salvador Caetano, que passou a agregar todas as participações do empresário no âmbito de uma reorganização recente, facturou 1,6 mil milhões de euros em 2006. A Toyota Salvador Caetano, responsável pelos negócios da marca japonesa, facturou no mesmo ano 382,6 milhões de euros.

O Grupo Salvador Caetano emprega 6100 funcionários em 2006, dos quais 813 na esfera da Toyota Salvador Caetano.

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